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Se é verdade que a violência associada ao fenómeno desportivo sempre esteve presente com uma relativa frequência no quotidiano dos portugueses, a regularidade com que tem surgido nos últimos tempos permite-nos afirmar que esse flagelo se tem intensificado e assumido uma dimensão sistémica.
Em 2024, ocorreram 8879 incidentes. 92% associados ao futebol e 97% às promovidas pela FPF. Ou seja, Portugal não tem um problema de violência no desporto, mas sim de violência no futebol.
Se considerarmos que todos os estádios, bancadas, relvados e apoios municipais têm origem em verbas públicas e que, em média, se registam 171 incidentes em cada final de semana, temos, para além da sua perigosidade, um produto claramente nocivo, impondo a revisão deste esforço comunitário.
Sem retirar a pertinência - e utilidade - desta e das demais modalidades no incentivo da prática desportiva, não pode esta mesma sociedade deixar de exigir um maior empenho dos seus promotores na erradicação dessa violência.
Não é aceitável que se apresente como principal solução a presença das forças de segurança nesses eventos, nomeadamente nos escalões de formação. Esta necessidade será, aliás, sempre sinónimo de falência dos valores intrínsecos à prática desportiva.
Os 275 726 elementos da PSP/GNR destacados para ações no âmbito da realização de eventos desportivos, em 2024 (e com uma grande parte paga pelos mesmos contribuintes), superaram em muito a capacidade de resposta destas forças e é inaceitável que se exija um esforço ainda maior.
O desporto é fundamental para a formação de todos os jovens, mas permitir que ocorra em cenários de violência contribui muito mais para a sua deformação!