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Desde a última quarta-feira, dia em que, perante três milhões e meio de portugueses, António Costa vergou inapelavelmente o primeiro-ministro e candidato Pedro Passos Coelho, as premissas para a campanha, que está prestes a começar, parecem ter-se alterado por completo. De um lado, uma coligação que descobriu da pior maneira a falácia de um desenho estratégico onde sobra em sobranceria o que falta em propostas. Do outro lado, um partido socialista que reganhou energia e que acredita agora que o plano inclinado das intenções de voto se inverteu a seu favor. Pelo meio, bloquistas e comunistas mantêm-se iguais a si próprios, não poupando adjetivos quando se trata de condenar a governação da Direita. É hoje dado adquirido que Passos & Portas não poderão continuar a fazer-se de mortos, pois os desafiadores estão aí e, imagine-se, querem mesmo discutir política.
A coligação tem procurado mapear os temas a debater de forma a consolidar a ideia, reiteradamente repetida, de que mais vale aos portugueses o "pássaro na mão", que é como quem diz "não arrisquem mudanças, que estes já os conhecemos". E a razão emblemática para tão pobre "proposta de valor" é o risco do regresso às políticas de Sócrates, que, por sinal, não é candidato a coisa alguma. O mérito do desempenho de António Costa na última quarta-feira foi, justamente, puxar o tapete a Passos Coelho e fazê-lo descer à terra, o local onde existem os problemas reais e se debatem as soluções. Ao derrubar o primeiro-ministro do seu pedestal, forçando-o a assumir as suas responsabilidades enquanto candidato, Costa vestiu a pele de porta-voz de todos os portugueses, mesmo daqueles que não votarão PS.
Com Sócrates fora do debate e destruído o mapa temático que a coligação havia idealizado, deixou de ser possível à dupla Passos & Portas evitar os temas quentes. As dificuldades que têm vivido nas ações de rua e os debates com a porta-voz do BE, Catarina Martins, são bem disso exemplo. Depois de ter esmagado o líder do CDS, a deputada bloquista recordou ao primeiro-ministro algumas das mentiras com que enganou os portugueses para chegar ao poder em 2011.
Na próxima quinta-feira haverá novo debate, desta feita um simultâneo da Antena 1, Renascença e TSF. Agora que percebeu que para vencer é preciso ir a jogo, Passos Coelho terá de encontrar melhores respostas para os temas do seu descontentamento: o BES, as pensões, o emprego, a emigração, a educação, a ciência. É que Costa não lhe vai dar tréguas, pois sabe que este pode ser o momento da estocada fatal.
PROFESSOR CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DO MINHO