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Um dos aspectos mais negros da crise grega foi o da reconhecida falsificação de estatísticas. Também por causa disso, a União Europeia passou a insistir nas "medidas preventivas" para que o bombeiro comunitário não chegasse depois dos fogos. Ninguém de bom senso, à "esquerda" e à "direita", pensou em contradizer ou debater esta medida. Tratava-se, no fundo, de supervisionar o capitalismo, a bem das nações.
Em Abril deste ano, a cimeira do Ecofin aprovou as linhas gerais de uma vasta proposta, agora pormenorizada, destinada a dar eficácia a essa prevenção e regulação, rumo aos objectivos ditos da "Europa 2020".
Estas metas não são secretas, ou sinistras. Trata-se mesmo do programa que qualquer bom pai de família desejaria: crescimento, inovação, emprego, inclusão social, energia, investigação, combate à mudança climática e a outros obstáculos ao progresso colectivo.
A ideia "preventiva" é a de criar o chamado "semestre europeu", período anual onde se passam em revista as grandes linhas dos orçamentos nacionais. Cronologicamente, a Comissão apresentará o AGS, ou análise de crescimento, o Conselho anuncia medidas estratégicas, e os governos informam e são informados do que se pretende fazer, antes de se proceder à votação dos documentos nos hemiciclos. Quer-se mais conhecimento mútuo, rigor e debate. Não menos.
Não há sanções punitivas, ou veto, mas recomendações do Conselho (nos termos do Tratado de Lisboa), no caso de os países se afastarem das metas contratadas pelos próprios (no PEC).
Não há a supressão do voto soberano dos legislativos nacionais, mas antes o incentivo ao maior envolvimento destes.
Não existe, portanto, qualquer "visto prévio", típico de um Tribunal de Contas. E muito menos o papel monopolizador de um "Grande Irmão" alemão (Berlim gostaria de mais "dentes" na proposta).
Claro que o nascente "braço preventivo" pode ambicionar a mecanismo coactivo.
Claro que os expropriadores de soberania não dormem.
Deve haver vigilância lúcida sobre isso, combate verdadeiro, e não apenas folclore ou palavreado. Se o federalismo foi vencido uma vez, pode ser derrotado novamente.
Para já, porém, trata-se de gerar menos demagogia (interna e externa) e de erguer um muro contra a manipulação dos números.
Isto é óptimo.
Ou queremos continuar a ouvir "verdades oficiais" que não se sustentam na realidade?