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As mais altas esferas do PS terão certamente entendido as razões da derrota nas Europeias e evitarão que o partido siga pelos caminhos que Vital Moreira - uma das caras dessa derrota - apontava e, pelos vistos, continua a considerar como a melhor via. Ainda ontem, no seu artigo no "Público", Vital zurzia em Manuela Ferreira Leite por causa das recentes declarações de Alberto João Jardim e terminava dizendo que ela vai à festa de Chão da Lagoa para ser "ungida por Alberto João e lhe prestar vassalagem". Vital, que passou grande parte da campanha para as Europeias a falar em "roubalheira" e a tentar trazer para a discussão política o caso BPN, em que estão envolvidos alguns ex-ministros do PSD, persiste no erro, independentemente de ter óbvia razão nos reparos que faz às propostas do líder madeirense. Mas esquece algumas coisas fundamentais.
A primeira delas é que quanto mais falar em Alberto João Jardim mais importância lhe dá. O presidente do governo da Madeira ascendeu, por mérito próprio de umas quantas poucas-vergonhas, a uma categoria mais ou menos inatingível de excrescência democrática, de onde ninguém o retirou ou retirará. Estar ou não estar a seu lado já é indiferente. Várias figuras de primeiro plano da vida portuguesa, de diversos quadrantes, têm sido vistos a seu lado, fotografados e filmados, e naturalmente nada lhes acontece. Ignorá-lo é a melhor solução. Manuela Ferreira Leite vai à Madeira pelas mesmíssimas razões que outros foram antes dela. Ser vista. Não é grande razão, mas, em política, sobretudo em campanha, é uma razão aceitável. Compreensível.
A segunda questão de que Vital se esquece tem a ver com os telhados de vidro que PS e PSD têm em matéria de justiça. O que será da próxima campanha eleitoral se os partidos resolverem trazer para a praça pública a roupa suja que por aí anda! Acresce que, para vergonha de Vital Moreira, Ferreira Leite teve em todos estes casos um comportamento mais digno: ninguém lhe ouviu uma palavra sobre o caso Freeport e o alegado envolvimento de José Sócrates. Se a sua atitude foi essa num caso com o PS, porque haveria ela de se antecipar à justiça e falar dos casos que envolvem figuras gradas do PSD, com quem conviveu em governos de Cavaco Silva?
O que os eleitores podem e devem desejar para o próximo confronto eleitoral é um debate sobre as propostas dos partidos e os seus méritos. A verdade é que continuam sem ser tornadas públicas a maioria das alternativas às propostas do PS. Por aí seria um bom caminho de combate para Vital Moreira. O velho tique comunista de denegrir pessoas é que não pode, em pleno século XXI, ser uma aposta política. Poderá dar frutos - infelizmente sabemos que assim é. Mas não é arma a que um democrata deva lançar mão.