1. Quem ganhou o debate entre os líderes do PS e do PSD? José Sócrates. Porquê? Porque marcou o ritmo e decidiu os temas, porque se documentou sobre as incongruências de Pedro Passos Coelho e o apanhou desprevenido, porque conseguiu que o líder do PSD perdesse muito tempo a justificar as suas propostas mais polémicas e menos a denunciar o estado a que Sócrates conduziu o país.
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Mas há mais questões, para além de quem ganhou o debate. É preciso perceber o que ganhou Sócrates, e o que perdeu Passos. Começando por Sócrates, não ganha nada, limitou-se a evitar perdas. Os 60% a 70% de portugueses que o detestam não votarão nele só por ser mais eficaz e agressivo num debate. Como se dizia num outro frente-a-frente, um debate não é um combate de boxe.
Passos Coelho, por sua vez, pode ter sido por vezes atropelado durante o debate. Mas manteve a postura serena que é a sua. A autenticidade não o fará perder votos. Para além disso, nas poucas vezes em que conseguiu sobrepor-se ao ruído de Sócrates, foi eficaz a sintetizar o legado do adversário: um país a um passo do abismo, uma intervenção externa humilhante, níveis recordes de desemprego, cortes salariais a funcionários públicos e pensionistas, aumentos de impostos generalizados, um Estado Social exaurido.
Sócrates esteve mais confiante naqueles 60 minutos. Passos esteve mais hesitante. Sócrates ganhou o debate. Mas é provável que tenha sido uma vitória de Pirro.
2. Comunistas e bloquistas propuseram, há meses, uma solução diferente para os tempos difíceis que vivemos: em vez de um resgate com taxas de juro próprias de agiotas, reestruturar a dívida, renegociando taxas de juro e prazos de pagamento. Os restantes três partidos esconjuraram essa possibilidade. Mas já foram mais vigorosos na recusa. Porque entretanto, uma série de economistas de ideologias e países diversos, começaram a defender o mesmo, para gregos, irlandeses e portugueses.
Cito José Manuel García-Margallo y Marfil, vice-presidente da Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, eleito pelo Partido Popular espanhol, insuspeito de simpatias esquerdistas, no "El País": "O resgate de Portugal implica uma subida considerável de impostos, cortes nos salários, nas pensões e no subsídio de desemprego, a venda de boa parte do seu património público (...) Os ajustes são tão duros e as previsões económicas tão negras que provavelmente não serão capazes de devolver os empréstimos. Para poderem pagar, teriam que assumir sacrifícios que os seus cidadãos não parecem dispostos a suportar". Marfil defende a reestruturação da dívida, mas aponta o principal obstáculo: a dívida grega, irlandesa e portuguesa está nas mãos dos bancos alemães e franceses. Que não estão dispostos a ceder nem uma migalha dos seus lucros.