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A maior aprendizagem que fiz nestes últimos meses é a de não fazer planos de médio prazo. Para alguém que tem na organização da agenda um modo estrutural de gerir a sua vida, isso constitui algo disruptivo. Ora, é exatamente com a incerteza em mente que temos de olhar para as próximas semanas. Porque tudo pode acontecer.
As previsões quanto ao número de infetados na primeira quinzena de 2022 são inquietantes. Vale-nos eventualmente esta variante não provocar uma doença tão severa como as anteriores e as vacinas aliviarem a gravidade dos casos. No entanto, ninguém fica indiferente aos números avançados pelos especialistas. O primeiro-ministro adiantou, ontem, em Bruxelas, que as medidas restritivas podem ser prolongadas para além de 9 de janeiro. Por dois motivos: por um lado, a variante ómicron está a ganhar bastante velocidade; por outro, as festas de Natal e de Ano Novo potenciarão mais infeções. No entanto, convém não repetir os erros do ano passado.
Em 2020, por esta altura, ninguém ousou anunciar restrições adequadas à escalada de casos registados. Pensava-se nas consequências que isso teria nas celebrações de um Natal em família e deixou-se que os cidadãos sentissem que estariam libertos de preocupações. Hoje, todos sabemos o quanto as medidas de autoproteção são importantes. Basta pensar, por exemplo, no número de autotestes que estamos a realizar. Contudo, precisamos de aumentar os cuidados. Claro que ninguém espera que cada um de nós celebre o Natal ou a passagem do ano sozinho, mas ainda não é possível fazê-lo em festas alargadas. E é essa mensagem que as autoridades políticas e de saúde devem passar nos próximos dias.
Mesmo com todas as precauções, os ajuntamentos terão riscos. Que se traduzirão num aumento de infeções e de internamentos. Apenas não sabemos o grau de gravidade disso. Daí, ser difícil calcular durante quanto tempo teremos a vida em suspenso no princípio do novo ano... As autoridades políticas e de saúde dir-nos-ão que isso depende de nós. Em parte, têm razão. Todavia, há uma coisa certa: janeiro não será um mês fácil. Politicamente, viveremos em clima de campanha eleitoral e qualquer situação ou decisão desencadearão debates inflamados e decerto desproporcionados à realidade que importa atender. Em termos de saúde publica, atravessaremos mais um período em que tudo pode acontecer. Como dizia ontem uma amiga, regressaremos aos ensinamentos básicos: "viver um dia de cada vez". Com precaução e com sentido de responsabilidade. Pelo menos, agora não podemos dizer que nada sabemos sobre este vírus e sobre comportamentos defensivos.
*Prof. associada com agregação da UMinho