Há cerca de 10 anos, o então presidente da Associação Comercial do Porto considerava que o crescimento de tráfego no Aeroporto Sá Carneiro era "um dado positivo" mas, simultaneamente, alertava que o crescimento baseado nas companhias low-cost podia implicar aspetos negativos, uma vez que essas companhias não faziam viagens de longa duração.
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Esse presidente era Rui Moreira, que antecipava então aquilo que hoje vemos acontecer, a diminuição da operação da TAP num aeroporto onde o aumento dos voos das low-cost foi gradualmente retirando quota de mercado à operadora nacional. É de justiça lembrar que muito desse crescimento foi conseguido à custa de dinheiros públicos, milhões de euros de apoio às novas rotas, sufragados pelas lideranças a Norte e que proporcionaram um aumento do turismo que beneficiou largamente municípios como o que Rui Moreira hoje lidera.
O fim de algumas rotas no Aeroporto Sá Carneiro é a consequência óbvia de uma privatização que faz com que as lógicas puramente empresariais se sobreponham a algum interesse estratégico do território. Seja porque não são rentáveis os voos, seja porque se ganha mais em concentrar em Lisboa, seja porque se pisca o olho a um novo aeroporto, a lógica de uma TAP privada integra-se na vontade de ganhar dinheiro que pode não agradar a todos, mas é perfeitamente legítima.
Mas se isto era verdade enquanto a TAP era uma empresa maioritariamente privada, deixou de o ser quando o Governo decidiu recuperar 50% dela. Se metade da empresa é nossa, isso deve servir para alguma coisa, pensam os portugueses, grupo em que se inclui a população do Norte do território. Para "questões estratégicas", respondeu o Governo. Ora, uma das razões do sucesso do Sá Carneiro foi o conseguir captar os seus clientes em todo o território do Noroeste peninsular, aproveitando a pouca competitividade dos três aeroportos galegos. Por isso, se o corte de quatro rotas até pode não cair dentro do saco das "questões estratégicas", é mesmo difícil de engolir como é que a substituição do Porto por Vigo na captação do público galego não entra nessa categoria.
Perante as curtas promessas de diálogo do Governo, não é de admirar que os 50% que vivem acima do Mondego achem mesmo que os 50% da TAP afinal não valem mesmo nada. Claro que também não sabemos muito bem se esses 50% são do Governo que não quer interferir na operação estratégica da TAP ou do primeiro-ministro que afirma que "um dos objetivos estratégicos é manter uma base relevante de operações no Porto".
Não vale mesmo a pena esperar o céu. Esta é uma questão com tudo para voar baixinho.