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Há uma óbvia tentação eleitoralista na proposta do PSD de baixar o IRS para os jovens e a classe média. Não apenas porque esse é o eleitorado apetecido, o que no final de contas decide eleições, mas sobretudo porque é aquele que o PS tem desguarnecido, olhando mais para as classes desfavorecidas e para os reformados, quer, primeiro, pela reposição de rendimentos, quer, nestes meses, pelos apoios para fazer face ao aumento brutal do custo de vida.
Se os socialistas têm apostado em políticas direcionadas para os pensionistas e os pobres, os sociais-democratas apostam em atrair os jovens, suportando-se na impossibilidade que é hoje ter um projeto de vida que não seja ficar mais anos em casa dos pais, ou emigrar.
Os números mais recentes referem 128 mil novos emigrantes só no último ano. E uma sondagem de julho da Aximage para o JN, a TSF e o DN acentua as preocupações quando 54% dos inquiridos admitem sair de Portugal. Gostam do país, muitos até do trabalho que têm, mas depois acumulam-se a instabilidade financeira e do emprego, a crise na habitação e, claro, a falta de qualidade de vida.
É este cenário de dificuldades económicas, a que se soma uma classe média mergulhada no aumento sucessivo dos juros do crédito à habitação e no custo de vida, provocado pela inflação, que os sociais-democratas exploram.
Pode-se criticar o elenco de medidas, sobretudo por serem apresentadas com base na coleta de impostos deste ano que encheu os cofres do Estado, ou por não se enquadrarem num programa eleitoral que garanta o aumento das receitas fiscais por via do crescimento económico.
Pode-se até elencar os “sete pecados capitais” como fez o Partido Socialista, nomeadamente negando a acusação de que tem apenas aproveitado a coleta para encher os cofres do Estado. Pode-se tudo menos negar que a proposta do PSD tira para já o partido da letargia e obriga o PS a ir mais longe no próximo Orçamento do Estado. Folga não falta, por muito que se acene o papão da dívida.