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Vamos começar por nos entender sobre uma coisa? Não há nenhuma outra justificação para a existência de offshore que não seja esconder dinheiro. Pode ser que não haja nada de ilegal em fazê-lo, mas o mais provável é que o façam para praticar algo de vergonhoso.
Também podemos estabelecer uma outra base de entendimento. Mesmo que a nossa boa vontade deixe uma margem razoável para a presunção de inocência, muitos, mas mesmo muitos dos que utilizam as offshore são corruptos ou corruptores, ladrões, traficantes, vigaristas, empresas que tentam fugir ao fisco, ditadores... e a lista poderia prosseguir com mais um arrazoado de malfeitorias.
Acrescentemos ainda mais uma coisa de senso comum. Se retirarmos os paraísos fiscais, os estados - que é uma maneira de dizer todos nós - perdem muito dinheiro com estes "buracos negros" do sistema financeiro. Um relatório recente da organização Oxfam contabilizava em cerca 7 biliões de euros o montante depositado em paraísos fiscais, o que pode corresponder a uma perda de receitas para os estados de cerca de 174 mil milhões anuais.
Porque é que então não se acaba com algo que ocorre à margem da transparência que se deseja em sociedade, que é normalmente realizado por motivos ilegais e representa enormes perdas para os estados?
Talvez ajude perceber que, segundo o citado relatório, apenas 13 das 200 maiores empresas do Mundo não recorrem às offshore e que, no caso da Mossack Fonseca, mais de 500 bancos, as suas subsidiárias e filiais registaram quase 15 500 empresas-fachada com a ajuda desta firma de advogados panamiana. Ou seja, há uma prática continuada dos mais ricos de utilizar o sistema bancário para ocultar o seu dinheiro. Os poderosos ditam a sua lei porque essa é a sua conveniência. Lutar contra tão forte aliança não é, por isso, tarefa fácil
A União Europeia, tão cheia dos seus princípios, não consegue impor uma agenda, até porque teme a fuga das empresas e dos ricos que se viriam privados dos expedientes e privilégios que o resto do Mundo continuaria a utilizar. Como em tantas outras coisas, resta virarmo-nos para o país com poder para, sozinho, conseguir impor mudanças, os Estados Unidos da América. E aí há uma voz que há muito se levanta contra esta degenerescência moral, que tem uma agenda clara contra estes interesses instalados e uma oportunidade de fazer a diferença: o candidato democrata Bernie Sanders. Não parece loucura, perante o desafio é mesmo, mas dá vontade de pedir aos americanos que votem Bernie Sanders.
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