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vNesta época festiva, milhões de mensagens são trocadas, à velocidade da luz, entre amigos, familiares e conhecidos, registando-se nelas, enfaticamente, a palavra paz. Exprimem-se votos de boas-festas, com amor e paz, projectam-se esperanças num novo ano com muita solidariedade e compreensão. O Mundo quer paz. Mas os deuses devem estar loucos, porque é ao som da guerra, do ódio, da raiva e da violência indiscriminada que se trocam votos de fraternidade. A cada desejo de harmonia, solidariedade, compreensão, aceitação da diferença e do amor pelo outro, corpos de crianças mortas flutuam nas águas do mar imenso que prometia ser de ondas da esperança. Crianças morrem por hipotermia em campos de destruição e caos, provocadas pelas armas mortíferas disparadas por quem não tem compaixão, nem amor, nem humanidade. Hospitais destruídos, escolas em ruínas, fome, medo, doença e morte. A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma, no seu preâmbulo, que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no Mundo...… na Carta Constitutiva da ONU sublinha-se que os povos das Nações Unidas proclamaram, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres... a Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos Humanos afirma o seu profundo apego às liberdades fundamentais do ser humano, que constituem as verdadeiras bases da justiça e da paz do Mundo... o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional lembra, no seu preâmbulo, que no decurso do século XX milhares de crianças, homens e mulheres têm sido vítimas de atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a consciência da Humanidade. Neste memorial de boas intenções, a desordem, a crueldade, a ganância e a indiferença vêm-se reproduzindo e multiplicando perante a inércia dos povos e a sua responsabilidade humanitária. As mulheres no Irão continuam a ser presas e torturadas apenas porque querem ser livres e orientar as suas próprias vidas. No Afeganistão, as mulheres e as meninas foram reconduzidas às trevas medievais. Crianças que não pediram para nascer sabem o que é a fome, o frio, o medo e a morte. Mas não sabem o que é a paz. Homens e mulheres resistem, entre os escombros da esperança, a uma morte anunciada. Povos de todo o Mundo, de todas as culturas, de todas as religiões, de todos os ideais e de todas as idiossincrasias, mas todos pertença da família humana, devem unir-se e em uníssono exigir a paz, o amor e a justiça que os compêndios internacionais dos direitos fundamentais nos prometeram, como objectivo primacial e primordial para um Planeta que é a casa de todos nós.
*A autora escreve segundo a antiga ortografia