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Não era preciso ser profeta, mas ter apenas uma pequena dose de bom senso, para afirmar, como aqui mesmo o fiz há precisamente um ano, que 2009 nos traria em dose reforçada um pouco de tudo o que já sabíamos sobre a crise: despedimentos, salários em atraso, juros altos, dificuldades em obter empréstimos. Tudo a piorar. Assim foi.
E também veio, como se previa, mais desconfiança. Já não apenas nos bancos que nos habituáramos a considerar um local seguro para as nossas economias, mas desconfiança agravada também nos políticos, porque tardam as soluções. O próximo ano terá de ser melhor. Mais difícil, certamente, mas melhor. Acabaram-se os tempos das quimeras em que os políticos nos foram envolvendo.
Como finalmente disse e bem o presidente da República, o país rejubilaria se a Assembleia da República, palco por excelência da democracia, fosse cenário de "frutuosos entendimentos interpartidários". Ninguém certamente desejará que o país caminhe para novas eleições, que cave profundamente a sua ingovernabilidade. Governo e partidos da Oposição terão de ser capazes de encontrar um rumo que ajude o país a sair da crise, de chegar a um entendimento que projecte o país para além dos pequenos interesses e vaidades mesquinhas dos próprios intervenientes. Estes não são piedosos votos de Natal. São uma necessidade premente da nossa vida em comum, porque é urgente que os partidos encontrem uma plataforma de acordo, é urgente que no Parlamento se encontre apoio para o essencial da actividade governativa, e isso responsabiliza de igual forma a Oposição, o partido que sustenta o Governo e o próprio Governo. Sem isso, o país não avançará.
Dois factos, bem próximos, marcarão o nosso futuro: a votação do Orçamento de Estado e a eleição do novo líder do PSD. A discussão do Orçamento não se prevê fácil, nem para o Governo nem para ninguém; mas se algum partido viabilizar o Orçamento fica aberta a porta para José Sócrates procurar outros consensos. A eleição do próximo líder do PSD é também importante porque faz mal ao país viver com um segundo partido que tem uma liderança a prazo. Além do enfraquecimento desse segundo partido - o maior da Oposição - isso acaba por dar a terceiros partidos mais importância do que a que lhe foi atribuída pelo eleitorado. A eleição de um líder e o regresso da paz ao PSD trarão normalidade democrática ao espectro partidário.
É cada vez mais claro que o combate à crise não se faz apenas, nem sobretudo, com os políticos. Mas é preciso que eles assegurem ao país a paz necessária, que criem o ambiente. Empresas privadas, universidades, PME e muitos outros assumirão o seu papel assim que estiver assegurado que à crise económica não somaremos uma crise política. É este o melhor voto para este Natal.