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1 As eleições ganham-se ao centro. É uma das expressões mais repetidas por políticos, estrategas eleitorais, gurus do marketing político e comentadores avulsos. É no entanto o equivalente a dizer, em linguagem futebolística, e antes do jogo começar, que a bola é redonda. É frase vazia de conteúdo, ainda que diga bastante sobre a forma como se comportam os partidos que ambicionam o poder. As eleições ganham-se ao centro porque não convém ser, nem muito de Direita, nem muito de Esquerda. O melhor, aliás, é decretar que esse tipo de divisões está fora de moda. Entre a defesa de uma posição que possa alienar uma parte do eleitorado, ou fazer-se de morto, fugindo a polémicas, o mais avisado é o político optar pela segunda hipótese. Dizer que as eleições se ganham ao centro é mais ou menos a mesma coisa que admitir que vencer as eleições é um fim em si mesmo. Não é preciso fazer opções, é preciso evitar fazer opções. Pelo menos na fase de campanha porque, depois de conquistado o poder, a história é sempre outra. Curiosamente, ao longo destas quatro décadas de democracia, há dois fenómenos que andam a par: quanto mais os partidos de poder em Portugal se reclamam do centro, empastelando-se, maior a percentagem de abstenção.
2Voto útil. É outra expressão muito cara aos políticos que ambicionam conquistar o poder a partir do centro. E ainda mais quando o resultado é incerto, como deverá ser o caso das próximas eleições legislativas. Por norma, a referência é acompanhada por uma prévia garantia de respeito pela diversidade político-partidária. Afinal, somos todos democratas. No entanto, e ultrapassado o pró-forma, o potencial eleitor das franjas é confrontado com a inutilidade do seu voto. Se estiver a pensar escolher uma qualquer força mais à Esquerda, é avisado para o risco de fragilizar o centro-esquerda e entregar de bandeja o poder aos caceteiros da Direita. Se estiver a pensar votar no partido mais pequeno da Direita, corre o risco de fragilizar o maior, e entregar os recursos do Estado ao saque dos gastadores da Esquerda. Uma variante extrema desta lengalenga é a de que votar num partido pequeno, num círculo eleitoral pequeno, é duplamente inútil porque, ao que já ficou dito, se acrescenta que os mais pequenos, se podem ambicionar eleger alguém nas metrópoles do litoral, jamais o conseguirão fazer no despovoado interior. Resumindo, e para voltar ao princípio, se querem ser úteis, portem-se bem e votem ao centro. Ou abstenham-se, que também não causa mossa.
*EDITOR EXECUTIVO