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Eu sei que não vou a tempo, pois as listas já estão fechadas e a campanha começa segunda-feira, mas estava disposto a prometer quase tudo para ser eleito eurodeputado. Se votassem em mim eu repunha o Boletim Meteorológico no Bom Dia Portugal da RTP1; anulava a maldição do Bela Guttman, com efeitos imediatos, ou seja a tempo da final de quarta-feira em Turim: dava instruções à Administração da Caixa para baixar de 61 para 20 euros o preço dos bilhetes diários para o Rock in Rio que estão a vender na sua rede de balcões; garantia a readmissão do Capucho no PSD, do Narciso no PS e do Relvas na Lusófona. Tudo já e imediatamente!
Como é óbvio, também prometia não aumentar os impostos, reabrir os tribunais fechados pela Teixeira da Cruz, restaurar as freguesias fundidas e devolver aos pensionistas e funcionários públicos o dinheiro que perderam nos últimos três anos - e, ainda, para os compensar da maçada e sofrimento, dava-lhes um aumento geral e retroativo de 20%.
Claro que a maioria das promessas deste último pacote não são originais. Já as ouviram da boca do Tozé Seguro, que fez orelhas moucas ao conselho do Martin Schulz, candidato socialista à sucessão de Barroso, que pediu aos políticos para não fazerem promessas que não possam cumprir. Mas, o que querem?, há mentiras clássicas que nenhum político em campanha pode dar-se ao luxo de não repetir.
Sei que não vou a tempo, as listas estão entregues, mas era mesmo capaz de prometer quase tudo para ser eurodeputado. Era a minha cadeira de sonho. Para começar, Bruxelas tem uma localização fabulosa, a menos de duas horas de Paris, Londres e Amesterdão. Depois, o salário principesco (para o meu padrão) de 6200 euros/mês, mais 4299 euros para despesas, 304 euros de senha de presença por reunião, e um orçamento mensal de 21 209 euros para colaboradores. Um luxo! Em terceiro lugar, a estabilidade. Quem é que nos dias de hoje pode garantir que daqui a cinco anos tem o mesmo emprego e regalias? Eu não... E no final do mandato, a queda na real é suavizada por um gordo subsídio de reintegração (6200 multiplicado pelos anos no cargo) e uma reforma vitalícia, aos 63 anos, acumulável com outros rendimentos. Catita, não é?"
Como agravante, trabalhar é opcional. Há daqueles eurodeputados formiguinhas que se esfalfam a apresentar relatórios, chatear a Comissão e fazer perguntas e intervenções, como a Elisa Ferreira, o Carlos Coelho, o Diogo Feio ou a Marisa Matias (só para citar quatro exemplos, que não únicos). Mas se quisermos não fazer um corno, a não ser apreciar e gozar as coisas boas da vida também está bem, até porque se pode camuflar a preguiça com o truque de abusar das declarações de voto, que podem ser mais curtas que um tweet, mas no final, para efeitos estatísticos, contam como intervenções.
Penso que agora já todos já perceberam por que é que me estou a roer de inveja e era capaz de prometer quase tudo para no dia 25 ser eleito deputado ao Parlamento Europeu.