<p>O prestigiado "The Wall Street Journal" escrevia há dias que Portugal precisa(va) de um Orçamento do Estado (OE) tipo "ou vai ou racha". A avaliação do jornal não se confirmou: o OE só "vai" um bocadinho no sentido que devia ir, mas está longe de "rachar" - isto é: está longe de ser, como devia, um documento que, arrostando com as dificuldades, servisse como ponto de viragem. O Governo preferiu amenizar a dor, à espera, com certeza, que a economia internacional recupere e nos ajude a sair do pântano. </p>
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O nervosismo do Executivo ficou, de resto, bem patente na reacção intempestiva que o ministro das Finanças teve quando soube que as agências de rating não apreciaram por aí além o OE. O mesmo governante que falhou, uma e outra vez, o valor do défice chegou a dizer que as ditas agências (cuja palavra determina, em boa medida, o preço do dinheiro que Portugal tem que desembolsar quando pede empréstimos) estavam ao serviço de interesses comerciais, ou coisa que o valha. A acusação não é de somenos: se Teixeira dos Santos tem provas dessa grave promiscuidade, deve apresentá-las. Se não tem, deve permanecer calado, sob pena de se descredibilizar ainda mais. É que se há coisa de que, na verdade, não precisamos é de um ministro das Finanças politicamente desgastado e agastado.
A discussão sobre o estado das contas públicas e as indizíveis tricas com o senhor da Madeira escondeu o debate sobre a repartição dos dinheiros do Estado pelas regiões, designadamente através do PIDDAC (Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central). Como seria de esperar, o programa leva um tremendo corte: quase 25%. Como não seria de esperar, a Região de Lisboa e Vale do Tejo volta a ser a mais beneficiada, ao receber quase 19% do total da despesa, contra 10,8% para o Norte, 6,45% para o Centro e 1,9% para o Algarve. Quanto a prioridades, estamos esclarecidos: o Governo acha que, de entre todas as regiões do país, é Lisboa e Vale do Tejo a mais necessitada.
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) ensaiou anteontem uma diplomática reacção: "A primeira leitura (da distribuição das verbas) é de perplexidade", disse Carlos Lage. Há sinais q.b. desta "perplexidade". Exemplo: Valongo recebe cinco mil euros para a construção de dois centros de saúde. Chega para comprar os primeiros sacos de cimento e os primeiros tijolos. Depois, logo se vê. Lendo as notícias percebe-se que há pequenos sinais de indignação pela região fora. Esse é o problema: pequenos sinais de indignação não incomodam o Governo. Tristemente, os autarcas do Norte ainda não perceberam que falar para a paróquia (com o devido respeito) não acrescenta um átomo ao essencial: e o essencial é falar a uma só voz, de preferência uma voz grossa.