São 7,14 minutos que em dois dias foram vistos por 1,4 milhões de pessoas. O youtuber Wuant explica, perante a ex-namorada em sofrimento, as razões do fim da relação e as experiências que quer ter enquanto a coloca numa prateleira, para dar um "tempo" que não é um fim.
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A também youtuber Owhana vai acenando, quase sempre em silêncio, dando uma aparência de consenso a considerações humilhantes e com traços de manipulação e toxicidade.
Já não espanta o nível de exposição da intimidade nas redes sociais. As estrelas da música e da TV foram abrindo esse caminho (com danos difíceis de avaliar, como, nos últimos dias, no tão mediático caso da jovem atriz Margarida Corceiro e do futebolista João Félix). Os youtubers, contudo, elevaram a fasquia. Fazem dessa exposição negócio, mostrando os cantos da casa, as amizades, as relações e pedidos de casamento.
Wuant é considerado pela Forbes Portugal, pelo segundo ano consecutivo, o youtuber mais influente do país. Tem 3,6 milhões de seguidores, muitos dos quais crianças e adolescentes sem capacidade para perceber e avaliar devidamente mensagens enviesadas que transmite. Não falo das parvoíces e palavrões, esses bem fáceis de desconstruir perante um miúdo. O pior são comportamentos como o do vídeo, em que o perigo está na subtileza.
Claro que pode sempre argumentar-se que cabe a pais e educadores manter os filhos longe desta gente, só que a realidade é bastante mais complexa. Não basta limitar em casa, porque há a escola, os amigos, uma avalanche de informação que escapa tantas vezes aos adultos, sempre um passo atrás porque não dominam este novo mundo. Assistir e conversar sobre o que se vê é mais eficaz do que proibir. O problema não é, contudo, individual. A tecnologia e os modernos canais de comunicação trazem novos desafios de educação e é urgente olhá-los de frente. Sem medo de parecermos cotas, antiquados ou pouco divertidos, porque os riscos estão muito para lá da ligeireza que aparentam.
Diretora-adjunta