Primeiro, uma confissão: por motivo de férias, não tive oportunidade de ver nenhum dos debates entre os candidatos presidenciais. Em segundo lugar, outra confissão: a maior parte deles não me desperta grande interesse, num sentimento que receio se venha a prolongar pela campanha eleitoral.
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A primeira razão tem a ver com a profusão de candidatos. O número elevado não é necessariamente mau, mas a decisão de tratar da mesma forma os candidatos com possibilidade de serem eleitos e os que poucas hipóteses têm, se é democraticamente justa, acaba, por exaustão, por retirar peso aos debates que poderiam ter algum peso na decisão dos eleitores.
Mesmo com este senão, poderia ser interessante ver os candidatos do "sistema" (os que têm apoio partidário) em debate com os candidatos de "fora do sistema". Só que para isso estes últimos tinham que revelar bastante consistência, ou corporizar questões importantes para o futuro da ação presidencial, o que até agora não tem acontecido.
Acresce que há outras razões de natureza política que também retiram algum interesse à corrida eleitoral. Desde logo, a ideia de que há um candidato (Marcelo Rebelo de Sousa) que parte muito à frente dos outros rouba à disputa o essencial condimento da incerteza. Restará, apesar de tudo, a possibilidade de uma segunda volta que, essa sim, poderá ter outro interesse.
Depois, estas eleições perderam no início o picante maior, que era saber se os candidatos se dividiram entre aqueles que insinuariam a demissão do atual Governo e aqueles que garantiriam a sua manutenção. Mas, da Direita à Esquerda, a gestão do timing eleitoral foi deixada para António Costa.
Por fim, a ideia de o PS não apoiar oficialmente nenhum dos candidatos - e, numa análise fria, podermos considerar que o candidato da Direita poderá ser o melhor "seguro de vida" para um Governo socialista, já que Marcelo está verdadeiramente apostado em fazer-se o "presidente de todos os portugueses" -, esvazia ainda mais a contenda dos contornos de debate ideológico que poderia ter.
Quer isto dizer que o papel do presidente não tem importância e os portugueses não devem empenhar-se em fazer a melhor escolha? Não. Num país com a incerteza política que ainda vivemos e num mundo em ebulição, o vértice da pirâmide do poder poderá revelar-se decisivo. Mas, aí, já estaremos em jogo. O treino é que, para já, não se revela muito entusiasmante.