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O problema económico central do país é sem dúvida a timidez do seu crescimento económico, o que imporá por vários anos um elevado nível de desemprego. Um forte travão à desejável aceleração do nosso crescimento é claramente a fragilidade do sistema bancário nacional. A crise tem vindo a impor aos bancos perdas de valor muito significativas que ascendem já a algumas dezenas de milhar de milhão de euros. Em consequência, a robustez financeira dos bancos foi abalada tendo havido, como sabemos, instituições que não resistiram ao choque da crise e às más decisões que tomaram. O volume de crédito em risco é ainda elevado e, em termos relativos, dos mais altos no contexto do euro.
Com este pano de fundo, os bancos portugueses têm naturalmente menor propensão para arriscar em operações de crédito que possam debilitar ainda mais a sua situação financeira. Por isso o crédito é difícil e oneroso. Na outra face da moeda, temos empresas com elevados níveis de dívida que lhes impõem encargos pesados. A sua apetência para lançarem novos projetos, que impliquem aumento do seu endividamento, também não será grande. A fragilidade da Banca espelha a fragilidade das empresas endividadas. O peso da dívida empresarial, em especial daquela que constitui crédito em risco, é um peso que dificulta o andamento mais célere da economia.
Não haverá crescimento forte e sustentável enquanto não tivermos um sistema financeiro forte, estável e confiável. Ou esperamos que o sistema recupere e se recomponha gradualmente ao longo do tempo. Neste caso a recuperação do crescimento será também gradual. Ou ocorre uma intervenção mais ambiciosa que acelere a reestruturação financeira das empresas e alivie rapidamente os riscos de crédito que tolhem a ação dos bancos. Neste caso, teremos, à semelhança do que assistimos, por exemplo, nos Estados Unidos, na Irlanda e em Espanha, uma recuperação mais rápida do crescimento. Mas sem uma estratégia e um plano de ação europeu, que envolva o BCE, esta segunda alternativa afigura-se difícil.
Pelo que ficou dito, a presença de Mario Draghi na primeira reunião do Conselho de Estado presidida por Marcelo Rebelo de Sousa reveste-se de uma relevância e um significado muito especiais. Primeiro, chama a atenção para a importância do sistema monetário e financeiro no bom funcionamento da economia. Segundo, sinaliza claramente que sendo este um desafio nacional, ele é também europeu e deve por isso envolver as autoridades europeias. A ação afoita do BCE em momentos críticos da crise revelou-se decisiva, daí a merecida alcunha de Super- Mário ao seu presidente. O fortalecimento da Banca é mais uma frente em que vamos precisar que o Super-Mário resista à kryptonite germânica.