Não falta quem alvitre que o desconfinamento está a ser demasiado rápido. São tantos quantos os que dizem que está a ser demasiado lento. São opiniões elaboradas ao sabor do ar dos tempos: ou tudo ou nada.
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Volto a um tema recorrente por aqui. A revolução binária cavou um fosso e cultivou a divisão hermética. Ou 0 ou 1, ou sim ou não, ou adoro ou odeio. É a materialização da adolescência projetada sobre todas as coisas. Ou estás comigo ou estás contra mim. Muitos comentadores e políticos vivem da exploração dessa infantilização, o grande carimbo do comportamento das redes, como um selo branco que marca todas as conversas. Atrás de um monitor, podemos alijar responsabilidades. Falar do que não sabemos como se soubéssemos do que estamos a falar. Até há quem acredite, com orgulho, que uma antena de 5G transmite uma doença.
É possível que a maioria das pessoas não tenha capacidade para agarrar este imenso poder que nos colocaram nos dedos, lamento dizê-lo. Deram-nos a incrível novidade do fogo e desta vez Prometeu não será castigado. Mas Zeus não dorme: sabe que não há força coletiva para resistir a Pandora.
Jornalista