As primeiras décadas do século XXI estão a ser marcadas por vários acontecimentos extremos. Se o século XX ficou marcado pela Gripe Espanhola (a outra grande pandemia versão séc. XX), pelo crash de 1929 / grande depressão, pelas I e II guerras mundiais, o séc. XXI parece não querer ficar atrás.
Corpo do artigo
Ainda nem percorremos um quarto de século e já assistimos a um grande atentado em 2001 às torres gémeas, a uma grave crise financeira em 2008, à elevada consciencialização das alterações climáticas, a uma brutal pandemia provocada pelo vírus da Covid-19 e, já só faltava, a uma guerra Rússia - Ucrânia em pleno solo europeu.
Subitamente, damos por nós alarmados com a escalada do preço gás natural, da energia, dos combustíveis e, por arrasto, dos bens essenciais de que todos necessitamos no nosso dia-a-dia, nomeadamente dos alimentos. Diariamente deparamo-nos com os espaços noticiosos invadidos por analistas especialistas em questões alimentares.
A guerra Rússia / Ucrânia veio agravar de forma exponencial esta verdadeira tempestade que estamos a viver. A Rússia e a Ucrânia, para além de serem o celeiro da Europa, são também uma fonte muito importante dos principais nutrientes utilizados na nutrição das plantas e sem os quais a produtividade dos campos pode ser fortemente afetada. Basta termos em conta que a UE representa 22% das exportações russas de fertilizantes para percebermos o enorme impacto que esta guerra já está a provocar e irá provocar na "alimentação das plantas" e, por arrasto, na alimentação do mundo.
De repente, todos passámos a temer um cenário de escassez dos alimentos e já estamos a sentir a forte escalada dos preços de todos eles.
E agora?
E agora, mais uma vez, a agricultura e os agricultores têm que responder com a sua habitual e característica resiliência. Agora, o agricultor vai ter que produzir tendo em conta o aumento do custo de todos os fatores de produção (incluindo os dos fertilizantes), contribuir para a estratégia global de mitigação das alterações climáticas (e para a preservação de ecossistemas) e, o mais importante, alimentar toda esta população que não para de crescer.
E como conciliar tudo isto?
Se a agricultura já era interpelada a adotar um modelo de produção intensiva mas sustentável, esta mais recente crise provocada pela guerra Rússia - Ucrânia não é mais que um sinal de alerta para a necessidade do setor agrícola continuar a transformação dos seus modelos de produção.
O exponencial aumento dos custos das matérias-primas de fertilizantes e o risco elevado de escassez de algumas dessas matérias-primas devem ser encaradas como uma oportunidade única para se efetivar algumas das práticas que vêm sendo apontadas como determinantes para adotarmos o tal modelo de produção agrícola sustentável mas que responda às necessidades de alimentos na quantidade e qualidade que todos necessitamos para (sobre)viver e a preços suportáveis por todos.
Não podemos abdicar da proteção das culturas, da fertilidade dos solos, da nutrição das plantas ou da energia para semear ou colher. Não podemos deixar de regar, mas
podemos reduzir as perdas de água. Podemos corrigir os solos e contribuir para a sua maior sanidade e fertilidade.
É urgente a necessidade do setor agrícola aumentar a sua eficiência e a indústria dos fertilizantes é, mais do que nunca, desafiada a contribuir para esta eficiência. A solução é sempre a mesma: inovação. O recurso a substâncias bioestimulantes de origem natural como ferramentas de confiança para aumentar a performance das plantas, otimizando processos fisiológicos e aumentando a tolerância das culturas ao stress (quais atletas de alta competição) bem como o uso de fertilizantes mais tecnológicos, que permitam melhor eficiência na utilização dos nutrientes são duas soluções que, aliadas a bons roteiros e protocolos técnicos, podem ser decisivas nesta autêntica revolução que se pede à agricultura.
E, talvez assim, a agricultura seja um dos primeiros setores económicos a reduzir efetivamente a sua dependência de matérias-primas importadas de geografias politicamente instáveis e pouco confiáveis.
*Diretor-geral da Timac Agro