Estamos em isolamento social (quase) sempre, em casa. Ironicamente, a privacidade para muitas famílias está condicionada: ausência de espaços e tempos só nossos, o que, física e mentalmente, é ameaçador, diminuindo recursos emocionais determinantes para a relação como(s) outro(s), mesmo os que amamos e queremos juntos de nós, mas... não sempre.
A privacidade é ingrediente para a saúde mental familiar e individual.
Nos adultos que coabitam, para que haja espaço entre conversas e ações, criando distanciamento emocional para melhor gestão dos conflitos, na resolução de problemas e tomadas de decisão e vontade de proximidade afetiva; na criança, mesmo pequena, num espaço partilhado com o adulto, mas sem a sua intervenção, deixando-a brincar e "ser" sozinha, desenvolvendo a autorregulação emocional, resolução de problemas, autoconhecimento e criatividade. E determinante no adolescente, para que se defina enquanto ser individual, único e com fronteiras definidas, garantindo e respeitando o seu espaço, mais do que nunca batendo à porta do quarto, dando espaço para que comunique (à distância) em privado com os pares, não mexendo no que é dele, mostrando que ainda que estejam sempre todos juntos, se mantêm (ou se começam) limites de privacidade e direito à intimidade.
Difícil? Necessário ajustar perante as limitações físicas da casa? Certamente. Um caminho de ajustes, diálogo e esforço coletivo e reconhecimento recíproco desta necessidade, fundamental na saúde mental num cenário de coabitação permanente.
Pela saúde mental, praticar a privacidade física e mental
Diariamente, identifiquem e estabeleçam momentos e espaços de privacidade de cada um, intercalados com momentos em família. Adultos e adolescentes partilhem as necessidades de privacidade (falar com alguém ao telefone; estar sozinho a ouvir música e a ler; tomar banho; barreiras físicas) e criem um plano prático para as cumprirem.
Com as crianças mais novas, intercalem momentos de interação com momentos em que a criança é incentivada a brincar, jogar sozinha, mesmo na presença do adulto, envolvido noutra tarefa.