Em 2016, a DC Comics e a Warner Bros produziram um filme com este título.
Na película, os mais infames e selvagens criminosos são requisitados e coagidos a combater uma ameaça mundial, sabendo de antemão, que a vitória não influiria na sua vida, mas acreditando, a partir de determinado ponto, que estavam a fazer o correcto e que o mundo os reconheceria pelos seus actos heróicos. Lá para os finais, há um "Obrigado" que se esgota por ali e os cativos rapidamente são reconduzidos às suas celas, logo depois de aniquilarem a ameaça à sobrevivência humana.
Questionará o leitor, com razão, se pretendo ser crítico cinematográfico. A resposta é negativa. Eu, ao contrário doutros, não ambiciono debruçar-me sobre temas que não dominó, mas é impossível ter visto este filme e não encontrar semelhanças do surreal com a triste realidade.
Ao momento em que escrevo este texto, a comunicação social denunciou já que existem faltas de profissionais nos centros de vacinação, sendo até considerada a possibilidade das vacinas serem administradas por farmacêuticos.
Ninguém acharia normal os enfermeiros fazerem manipulados de farmácia ou realizarem cirurgias sozinhos. Ainda bem! São circunstâncias que exigem competências específicas e devem ser realizadas por profissionais diferenciados e altamente preparados para as executar, com absoluta dominância das melhores práticas, na perspectiva de trazer ganhos em saúde ao doente ou, em última análise, pelo menos não lhes causar dano.
A vacinação não é diferente. Espetar uma agulha qualquer um espeta, é certo. Até os toureiros! No entanto, saber onde, o ângulo, a velocidade de administração e como prestar auxílio em caso de situação adversa exige que o procedimento seja realizado pelos únicos profissionais qualificados para o efeito. Os enfermeiros.
No país do pára-arranca administrativo, se faltam enfermeiros à quarta, é porque à terça, o Estado os despediu. O termo técnico das Relações Públicas é "não renovação de contrato", que acaba por ser mais cordial do que "pôr no olho da rua", mas a verdade nua e crua é que os profissionais perdem o seu sustento e as pessoas ficam com o acesso a prestadores de cuidados de saúde mais limitado.
Andámos a debater a humanização dos cuidados de enfermagem, enquanto os gestores desumanizam os enfermeiros. O utilitarismo da gestão pública desta esquerda, gere os recursos humanos como o património, dividindo-o entre "imobilizado" e "abatido".
Tenho dificuldade em compreender, como é que há uns meses houve enfermeiros a querer sair do SNS e o país que não deixou, agora os despede.
Não consigo perceber como é que se culpa Pedro Passos Coelho por ter convidado os portugueses a emigrar e agora não lhes damos outra opção.
Não entendo onde andam os notáveis da enfermagem que tão preocupados estariam com a dignidade da profissão e agora, agora que os enfermeiros são mais uma vez desrespeitados, se calam e comem na mão do dono como fizeram a vida toda.
O que levo de tudo isto, é que aparentemente, só eu é que não tenho amplitude de visão para compreender por que é que é mais estratégico ter ligações aéreas à Guiné-Bissau do que enfermeiros a cuidar de portugueses.
Uma coisa é certa, o que não deixaria, no limite, a moral, só é permitido pela falta de vergonha.
Presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros
