1 - Portugal vive um estado de exceção. A declaração de estado de emergência é um daqueles momentos que achamos nunca saírem dos compêndios de Direito Constitucional.
Uma efetiva supressão dos direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagrados, imposta pela pandemia que colheu o Mundo de um modo como não há memória.
2 - A situação que estamos a viver implica um esforço nacional, de todos. Estado e privados, trabalhadores e empregadores, Banca e capitalistas, senhorios e inquilinos. Todos sairemos inexoravelmente a perder deste episódio, mas perderemos menos se soubermos dar as mãos e atuar em verdadeira união, como Povo e como Nação.
3 - Há duas semanas, recebi uma chamada de um grande empresário nacional, de Guimarães, que por sua própria iniciativa constituiu um sindicato empresarial colocando um conjunto de unidades industriais a produzir, gratuitamente, os produtos que faziam e ainda fazem falta nos hospitais. Disse-me então "o Estado ajuda-nos, constrói-nos estradas, hospitais, ajuda-nos a ter o nível de vida que temos, eu sinto que numa altura destas devemos ser nós a ajudar o Estado".
4 - Esta atitude, além de reveladora de uma compreensão escandinava do Estado (como aquele que nos ajuda e não aquele que nos suga), é demonstrativa de um sentido de gratidão e de um humanismo assinaláveis. Numa palavra, de decência.
5 - São atitudes destas, dos empresários que estão no terreno, que nos recordam os deveres que todos devemos ter, particularmente o setor financeiro, no combate à pandemia social e económica que se abaterá no nosso país. Rui Rio disse ontem no Parlamento que "se a Banca lucrar com a crise será uma vergonha e uma ingratidão para com os portugueses que ajudaram a Banca quando ela de nós necessitou". Uma posição tão corajosa quão verdadeira.
6 - Seria aceitável que tantos de nós, como aquele empresário, sem que ninguém o pedisse, estejam disponíveis a dar de si para fazer parte de um esforço nacional, e aqueles que já tão ajudados foram no passado não estivessem? Não seria. E essa não é uma posição revolucionária, mas de decência cívica. E do tal sentido de gratidão. Que é, ou devia ser, um pressuposto educacional básico.
*Vice-presidente PSD/deputado
