Na passada quarta-feira foi largamente noticiado um feito científico notável: a primeira imagem de um buraco negro. No entanto, não foi divulgado com o mesmo destaque o facto de o financiamento do projeto que permitiu atingir esse feito ter sido financiado pela União Europeia (UE).
Carlos Moedas, o comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação referiu que este foi o momento mais significativo do seu mandato e, citando um investigador do European Research Council (ERC), referiu que "a história da ciência será dividida em duas partes: o tempo antes da imagem e o tempo depois da imagem".
Projetos desta dimensão, que envolvem centenas de investigadores, de mais de 40 países de todos os continentes, necessitam de avultados investimentos que, dificilmente, qualquer país europeu poderá suportar sozinho.
Apesar disso, a capacidade da Europa se manter relevante num mundo em que a ciência e a tecnologia assumem um papel cada vez mais relevante, depende cada vez mais da capacidade que tiver em puxar pelos limites da ciência e da aptidão para transformar esses resultados em produtos com impacto no quotidiano da humanidade.
O forte desempenho do Reino Unido (RU) na investigação financiada pela UE pode ser demonstrado pelas estatísticas que revelam que os investigadores britânicos ganharam 20% dos principais subsídios avançados do ERC em 2014, mais do que qualquer outra nacionalidade.
Algumas vozes favoráveis ao Brexit têm defendido que, saindo da EU e como contribuinte líquido, o RU pode direcionar para as suas instituições de investigação um montante para o financiamento da investigação idêntico ao que aquelas recebem da EU. No entanto, projetos multidisciplinares de grande dimensão envolvendo os parceiros europeus seriam de muito mais difícil concretização, por muito favorável que fosse o acordo de saída.
Sendo ainda incerta a concretização do Brexit, temos que continuar a trabalhar para assegurar o reforço das nossas ligações com a Europa, garantindo o futuro da investigação e reforçando o seu papel enquanto instrumento mobilizador da nossa evolução enquanto sociedade.
*Presidente do Politécnico do Porto
