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Um jornalista, por princípio, não deve ser "pró" ou "contra" ninguém. Deve, isso sim, desenvolver assuntos e colocar-se numa atitude crítica em relação às pessoas e aos acontecimentos, para melhor desempenhar a sua missão de informar.
Isto vale para os jornalistas católicos, em relação ao Papa. E, sobretudo, para um Papa como Francisco, que disse aos jornalistas no regresso da sua viagem ao Brasil em julho de 2013: "Eu gosto quando alguém me diz: "Isso não me é claro, não estou de acordo; eu digo-o, o senhor faça como melhor lhe parecer". Este é um verdadeiro colaborador!"
É estranho, por isso, o nome da reunião que decorreu esta semana em Madrid: "I Encontro Internacional de Jornalistas Pro Papa Francisco". Embora não tenha sido feliz a designação, a iniciativa parece, ainda assim, auspiciosa.
Reuniram-se jornalistas de uma dezena de países que constataram o paradoxo de "um Papa que recolhe um acolhimento mundial - e uma rejeição maior do que imaginamos que vem de setores que controlam grande parte do poder na Igreja", segundo o teólogo José María Castillo.
Dada a idade do Papa, que completa 81 anos em dezembro, estes jornalistas pretendem que "depois de Francisco não haja uma marcha atrás" na Igreja. Foi o que disse Julio Rimoldi, argentino e amigo do Papa. Partilhou também o que este lhe disse quando o informou que iria participar neste congresso internacional: "Francisco pediu-me que vos diga que necessita que façamos algo, ele só tem dois braços e duas pernas".
No final do encontro, todos se comprometeram a aproveitar as sinergias a desenvolver entre eles para "partilhar a informação e ajudar a fazê-la circular".
É importante que os jornalistas não assumam uma atitude de acolhimento acrítico de qualquer personalidade, mesmo que seja Papa. É de louvar que, apesar do título do encontro, os participantes se tenham disposto a colocar o seu trabalho ao serviço dos mais pobres e a juntar esforços para divulgar valores como a busca da igualdade, a justiça, a solidariedade, a liberdade, a paz e o cuidado da nossa casa comum.
Ao fazê-lo, estarão em linha com o Papa e com a missão do jornalismo: dar voz a quem não a tem. Como Bergoglio se tem esforçado por fazer.
PADRE
