O Parlamento aprovou, em fevereiro, a possibilidade de antecipar a morte de alguém, a seu pedido, em situações de doença incurável, terminal ou não. Arrisco dizer que a maior parte das pessoas não sabe bem aquilo que foi aprovado e não consegue apontar as condições em que se prevê aceitar o pedido de alguém para morrer, seja através de eutanásia ou de suicídio assistido.
Nesta altura, o Parlamento tem a oportunidade de construir uma lei que poderá vir a constituir-se como uma referência a nível mundial, sobretudo se conseguir compreender que a maior complexidade reside na tomada de decisão.
Deveria ser claro para todos que o que está em causa não é se deverá aceitar-se a decisão de alguém de morrer, mas sim se essa decisão representa a vontade real da pessoa e, sobretudo, o seu melhor interesse. Esta avaliação é, de facto, de enorme dificuldade, mas fundamental para diminuir a possibilidade de avaliar mal o pedido de alguém para morrer, sobretudo quando se sabe que a reversibilidade do desejo de morrer é muito provável.
É central definir como se poderá ajudar as pessoas nos seus processos de decisão e quais os períodos de reflexão que devem ser definidos. Em relação a esta última questão, não existem dúvidas de que o período que deve mediar entre o pedido de eutanásia e a realização da mesma terá que ser mais prolongado nas pessoas com lesão definitiva do que nas pessoas que sofrem de uma doença terminal.
Custa, por isso, compreender como é que os psicólogos não têm sido incluídos nesta discussão. O desejo de morrer, além de fatores de ordem física e social, tem sido frequentemente associado a fatores de ordem psicológica. Não no sentido de aprovar, ou não, o pedido de alguém para morrer, mas porque parece inimaginável que alguém em enorme sofrimento não realize um processo de acompanhamento que lhe permita partilhar, pelo mínimo, dúvidas e angústias.
Espera-se que a questão ideológica fique agora para trás, e que a ciência, nomeadamente a ciência psicológica, ocupe um espaço central na definição da melhor forma de diminuir os erros num processo tão difícil para todos os intervenientes.
*Plataforma Europeia Wish to Die e Cintesis
