As condecorações servem para distinguir aqueles e aquelas que merecem o direito ao reconhecimento e à memória.
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Servem para que a sociedade, pela ignorância e pelo esquecimento, não seja injusta com os seus melhores.
A relevância destas distinções é tanto mais significativa quanto é elevado o estatuto dos protagonistas que as conferem. Recorde-se, a este propósito, que "As Ordens Honoríficas Portuguesas destinam-se a galardoar ou a distinguir, em vida ou a título póstumo, os cidadãos nacionais que se notabilizem por méritos pessoais, por feitos militares ou cívicos, por atos excecionais ou por serviços relevantes prestados ao país".
Mas tenha-se presente que, quando se enaltecem uns, mais secundarizados tendem a ficar os outros, correndo estes o risco de pura e simplesmente terem mesmo a sua existência esquecida. Basta passar os olhos pelas listas dos condecorados, nomeadamente pelos presidentes da República, para, sem prejuízo do valor dos respetivos desempenhos, constatarmos que a maioria integra os círculos reconhecidos do poder e da vida social, círculos onde se movem os decisores e os seus conselheiros. Quantas e quais atividades e comunidades acabam por ficar automaticamente excluídas?
Quais os protagonistas de atividades tidas como mais modestas, designadamente e a título exemplificativo, trabalhadores rurais, pequenos comerciantes e industriais, mecânicos, eletricistas, proprietários e trabalhadores de restaurantes de bairros urbanos e aldeias, pedreiros e construtores, carteiros, etc., figuram, como tais, entre os condecorados? Todos nós sabemos que há profissionais excecionais de entre estes portugueses. Por que razão são pura e simplesmente ignorados pelos galardões e, assim, simbolicamente remetidos para o anonimato? E por que razão são igualmente silenciados os que, sós ou com as suas famílias, sofrem heroicamente a tragédia da pobreza, reforçando-se a sua exclusão?
É necessário que se busquem e identifiquem criteriosamente aqueles e aquelas que nas nossas cidades e aldeias e entre os emigrantes, incógnitos e quantas vezes na solidão, são artífices de vidas solidárias que as distinções honoríficas não podem, paradoxalmente, persistir em excluir.
ISCET-Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo/Obs. da Solidão