Uma fase difícil na minha vida de estudante foi quando entrei na Faculdade de Belas-Artes.
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Segui Pintura por motivação e empenho, a média era de 17, nada de preguicites, como alguns achariam. "Fazer rabiscos" não é, de todo, a definição do curso superior de Pintura. No entanto, a dada altura, no primeiro ano que frequentava, achei que aquilo que estava a estudar tinha um propósito menor; eu não estudava para médica. Seria útil para alguém, pensei, acrescentar uma pintora ao Mundo?
Angustiei-me em silêncio durante semanas. Não queria partilhar aquele pensamento. Já estava no curso, porque não fazia como os outros? Porque raio não conseguia simplesmente criar uma linha de pensamento, de criação? Deixar-me fluir e criar livremente, sem grandes questões. Mas não conseguia. E então um dia, inquirida por um dos meus atentos professores, acabei por desabafar a pergunta que me corroía por dentro. À sua pergunta, "de que é que dúvidas?" Eu respondi: "não sei para que sirvo de bem, se só me tornar artista. Que utilidade terá um artista?"
O meu professor respondeu: "Queres maior utilidade que acrescentar beleza ao Mundo? É isso que um artista faz!"
Nunca mais me esqueci dessa lição. Falta que todos saibamos entender a importância destas palavras; a importância do professor - que ouve, na vida de um aluno, e a importância de um artista que constrói a beleza, ou apenas os universos interiores onde outros perdidos se possam encontrar.
A autora escreve segundo a antiga ortografia.
*Artista
