Solidariedade com a Ucrânia: a "ucraniofilia" pode desaparecer?
A sociedade da informação em que vivemos, enquanto se afirma como uma sociedade da comunicação, disponibiliza-nos meios importantes para nos organizarmos como uma autêntica comunidade global. O conhecimento do Mundo na pluralidade social, económica e política que o constitui e na diversidade dos constrangimentos e oportunidades que quotidianamente o percorrem é, sem dúvida, à partida, um fator que pode proporcionar o fomento de laços de solidariedade.
Corpo do artigo
Zelensky tem disto perfeita noção, o que o leva a manter uma presença constante na ribalta dos meios de comunicação. Ele sabe bem que a atenção e implicação dos responsáveis e da opinião pública de todo o Mundo podem diminuir perigosamente se, apesar dos dramas vividos, a rotina gerar uma igualmente dramática "normalidade".
Lembremos os casos da miséria social e da violência política atualmente entregues a um total ou quase esquecimento, e portanto ao abandono, no Haiti, no Sudão, na Eritreia e, cada vez mais, no Afeganistão...
Os acontecimentos negativos são protagonizados por pessoas e situações que, existindo localmente, as notícias permitem fazer existir globalmente, potenciando nomeadamente a emergência de movimentos solidários. Timor-Leste, com a difusão das imagens do massacre do cemitério de Santa Cruz, foi aqui exemplar. Mas é também verdade que o desaparecimento ou secundarização das reportagens e das informações na televisão, nos jornais ou na rádio acarretam um mais ou menos rápido apagamento das tragédias e dos seus ecos na memória das pessoas e dos povos de outros países que, de uma forma ou de outra, se tornam distantes.
A Ucrânia, dentro da medida em que a guerra de que é vítima se repercute diretamente na estabilidade não só das nações mais pobres como das mais ricas, dispõe de uma condicionante que ironicamente ajuda a protelar o seu eventual esquecimento. Acontece, porém que, se as medidas reativas, sobretudo no âmbito energético e, de uma forma geral, nos abastecimentos e na prevenção de uma guerra para além das fronteiras, tiverem um sucesso internacionalmente razoável, a "ucraniofilia" pode desmoronar-se, deixando os ucranianos entregues à sua sorte.
A Ucrânia precisa da comunicação social!
*ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo/Obs. da Solidão