Basta sair um pouco do sofá para perceber a hecatombe económica que nos começa a cair em cima.
O desemprego iniciou um lento galopar nos números até se manifestar em toda a sua aflição a partir de outubro, centenas de fábricas já não abrirão portas depois de agosto, inúmeras empresas tentam ainda algum oxigénio nos apoios estatais. Não basta. E em março do próximo ano terminam as moratórias bancárias, acabando com a última margem de milhares de famílias.
Pior o turismo e pior os territórios que mais dependem da economia sazonal, como o Algarve, onde só quem lá vive percebe a dimensão da tragédia que começa a bater à porta, por muito que a região tenha tido a incansável promoção do presidente da República, numa ação poucas vezes vista de tentativa de gerar confiança nos portugueses.
Só a política mais rasteira pode ver no empenho de Marcelo Rebelo de Sousa uma manobra de pré-campanha eleitoral, de um chefe de Estado que mantém o silêncio sobre a sua recandidatura. É não perceber as nuvens negras que pairam sobre um país profundamente endividado e a enfrentar a maior crise das nossas vidas.
É esta tempestade, somada à anunciada segunda vaga da pandemia, que leva o primeiro-ministro a estender com mais humildade o pedido de apoio aos parceiros de Esquerda para poder governar sem crises políticas até 2023.
António Costa lidera um governo cansado, dependente da sua capacidade ubíqua de acudir a todos os fogos. E ou tem a Esquerda do seu lado, ou tem o PSD. Ele estará confortável com uma geometria variável, como sempre esteve. Cabe ao PCP e ao Bloco definirem onde querem estar.
Os tempos que se avizinham obrigam o país à definição política para ter políticas de futuro. Não serão dias fáceis.
*Diretor