Unidade. O desejo dominou a primeira eleição de Rui Rio, já lá vão dois anos. A palavra voltou a ressoar após uma segunda volta disputada, que apesar dos momentos pouco dignificantes da última semana conseguiu mobilizar mais votantes do que a primeira. Depois de dois anos de convulsões e de guerrilha interna, Rio convenceu a maioria dos militantes. Não teve um resultado esmagador, mas a diferença em relação a Luís Montenegro não deixa margem para dúvidas: 2162 votos a separá-los permitem uma leitura inequívoca da vontade do partido.
Na hora da derrota, Montenegro apelou ao fim da "cultura de fação", mas as palavras de paz não são necessariamente um enterrar do machado de guerra. A responsabilidade foi toda deixada nas mãos de Rio, que o candidato derrotado só a custo saudou no final da intervenção: "A unidade começa na liderança e no líder". Montenegro e a herança passista vão andar por aí. Invocando sempre que necessário "a legitimidade" dos seus 47% de votos.
Na noite da vitória, Rui Rio ouviu os recados de sempre sobre o papel que deve ter na oposição. Mas Rio conduz-se pela sua própria agenda. Pela sua visão da política e pela assumida disponibilidade para dialogar com o Governo em matérias estruturais para o país. Pelo seu estilo imune às críticas e pressões da agenda mediática.
Ainda que sejam poucos os motivos para acreditar na paz, o tempo é agora de Rui Rio, que promete (outra vez) um partido onde cabem todos. Com um discurso cauteloso na gestão de expectativas, Rio já começou a baixar a fasquia para as eleições autárquicas, o próximo embate eleitoral nacional. Admite ir gerindo a liderança de derrota em derrota, à espreita de uma oportunidade no caso de António Costa não resistir ao descomprometido compromisso dos partidos de Esquerda. É coisa pouca para um partido com a grandeza do PSD? Talvez. Mas um líder que enfrentou a quantidade de embates que Rio aguentou em dois anos mostra uma capacidade de resistência que não é de desprezar. O tempo dirá até onde essa resistência o leva.
*Diretor
