O imparável predomínio das Finanças no Governo levanta sérias dúvidas sobre o processo negocial com os professores para a recuperação integral do tempo de serviço. Mário Centeno foi claro em declarações proferidas esta semana, ao insistir no sentido de responsabilidade e sustentabilidade das contas públicas. O que deixa Tiago Brandão Rodrigues, um dos ministros mais resistentes e cujas políticas para a Educação mais se ofuscam com as questões profissionais dos docentes herdadas do passado, com poucas saídas.
Ou tem de facto uma proposta negocial que permita aos professores poderem salvar a face e recuperar parte do tempo de serviço perdido, seja em que moldes for, ou está ele próprio a deixar-se emboscar na armadilha das Finanças, fazendo de conta que negoceia sem verdadeiramente ter nada para negociar. Foi ele quem no passado recente ainda teve força no braço de ferro com Mário Centeno.
O que parece absolutamente óbvio é que o Governo não vai seguir o caminho da Madeira, descongelando até 2025 os nove anos, quatro meses e dois dias reclamados pelos professores. Como parece tentador chegar às negociações, que quer encerrar este mês, com um simulacro de proposta que na prática não dê mais nada, deixando aos professores o ónus das greves e da incompreensão das famílias. Cairá de vez o diploma vetado pelo presidente da República. Cairá qualquer recuperação do tempo de serviço.
O que pesará neste jogo arriscado de Costa e Centeno são os votos que faltam para a maioria, num momento em que nenhum dos partidos, os que suportam o Governo ou o PSD, é claro e transparente sobre o que defende, para lá da necessidade das negociações, sendo certo que o argumento das boas contas públicas colhe junto dos portugueses. Ninguém quer voltar ao passado.
Sobra neste rosário eleitoral o papel de Marcelo Rebelo de Sousa. No discurso de Ano Novo, alertou que seria um ator principal no que aí vem. E não é apenas pelos professores. É porque na verdade a Esquerda e a Direita, por razões diferentes, tudo farão para que o presidente fale pouco. A ele esperam-no armadilhas.
*Diretor
