Gostaríamos de abrir o ano com boas notícias. A separar os bons dos maus. A sermos capazes de explicar uns aos outros o que é certo e o que é errado. Para nos situarmos no Mundo com maior clareza, sem termos a sensação de que estamos num permanente teatro de sombras. Mas não. Aqui, os únicos que são bons acabam por sofrer até se tornarem maus. As mulheres, as crianças, os idosos, os homens também. Alguns.
O ataque cirúrgico dos Estados Unidos com drones que assassinou o general iraniano Qassem Soleimani, comandante da Força al-Quds, a unidade de elite dos Guardas da Revolução, estratega da influência do Irão no Médio Oriente, olhado no país como o garante da segurança nacional, é uma declaração de guerra à República Islâmica que não só acabará com os últimos resquícios de paz em algumas partes do Médio Oriente, como voltará a unir toda uma região contra o Ocidente.
Da Síria, ao Iraque ou Palestina, territórios devastados pelo ódio, não vem o poderio militar capaz de confrontar potências como os EUA. Nem do próprio Irão, sem grandes aliados e aparentemente com armamento obsoleto e por renovar desde que foram reintroduzidas as sanções norte-americanas após a retirada de Trump do acordo nuclear.
A ameaça vem das milícias armadas e treinadas pelo país e a operar um pouco por toda a região, agora sem voz de comando ou orientação. Mas a ameaça volta a pairar principalmente sobre o modo de vida ocidental. As igrejas, as estações de metro, as festas, cada espaço onde subsistamos como alvo das forças fundamentalistas como o Daesh, o autodenominado Estado Islâmico, ou a aparentemente adormecida al-Qaeda, que ressurgem e se reforçam no meio da guerra.
A ganhar, e essa é a clareza absurda da política, só mesmo o presidente que ordenou o ataque sem autorização do Congresso, a enfrentar um processo de destituição e a caminho das penosas eleições de novembro. Com as notícias da guerra perdemos todos.
Diretor do "Jornal de Notícias"
