Quando o primeiro restaurante da McDonald"s abriu em Moscovo, em 1990, algumas fronteiras da União Soviética ainda estavam intactas.
Foi o marco da abertura económica a Ocidente, a chamada Perestroika. Quase 32 anos depois, a cadeia norte-americana de fast food fecha os 850 restaurantes na Rússia, já sem URSS, mas com Putin. O jornal "The New York Times" esteve presente na URSS e na Rússia desde 1921, sobreviveu ao consulado de Estaline, mas decidiu a sua saída após a invasão da Ucrânia.
No momento em que mais do que os estados são as empresas com marcas globais que abandonam o mercado russo, a mensagem é óbvia: o regime de Putin está isolado e o legado da ocupação ucraniana é tóxico.
O Ocidente político agiu devagar, unindo-se após os primeiros bombardeamentos e sob o peso do fator Zelensky, numa prova de força que Putin não terá previsto. Esta semana chegou a decisão sobre a energia russa e a hesitação voltou a bater às portas das capitais europeias. Após uma década de envolvimento económico com o Kremlin, promovido pela chanceler Merkel, que procurava a contenção de Putin, assistimos hoje ao seu colossal fracasso. Não só não se aproximou, como desafiou a União Europeia agredindo um Estado democrático.
Já a Europa atingiu níveis de dependência energética que inviabilizam uma tomada de posição comum perante um líder autocrático.
Resta-nos o espectador mais interessado no conflito. Xi Jinping assiste com atenção, e com os olhos postos em Taiwan, ao conflito no coração da Europa. De Pequim observa-se o tempo, o tipo, a dose e a firmeza com que o Ocidente defende as suas democracias; como resiste o modelo social europeu face à maior crise de refugiados; e qual a força económica perante o custo da anunciada corrida ao armamento.
Não há, da parte da China, qualquer ambiguidade estratégica. Publicamente, Pequim não pode apoiar a invasão russa, que teve como pretexto o reconhecimento unilateral do separatismo de duas repúblicas em território ucraniano. Os planos para Taiwan não o permitem. No domínio não público, Xi Jinping deseja receber do segundo exército mais poderoso do Mundo a segurança geopolítica para prosseguir com a sua política assertiva sobre o mar da China e Taiwan.
Já os mísseis destruíam vidas ucranianas quando o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês classificou a aliança sino-russa de "sólida como uma pedra". E não foi por acaso.
Pequim não deseja uma vitória de Putin, mas também não o quer ver sentado em Haia.
Quer o Kremlin de joelhos.
*Diretor-Geral Editorial
