Não é Norte contra Sul. E muito menos Porto contra Lisboa. É, mesmo que a afirmação soe a homilia dominical, uma questão que nos diz respeito a todos, que a todos deve envolver num desígnio nacional.
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O país começará a receber, a partir do ano que vem, 45,1 mil milhões de euros a fundo perdido. Teremos, desde logo, os 15,3 mil milhões de subsídios no âmbito do Fundo de Recuperação Europeu. Um fundo pela primeira vez financiado com dívida emitida pela União Europeia, mas com um prazo muito curto de investimento - são três anos para o gastar.
Teremos, por outro lado, 29,8 mil milhões a fundo perdido, mas por via do próximo quadro comunitário, que decorrerá entre 2021 e 2027. E, finalmente, 10,8 mil milhões em empréstimos, ainda no âmbito do Fundo de Recuperação da União Europeia.
São muitos números que podem caber num plano, ou não caber em plano nenhum. O presidente da República tem sido claro e persistente na mesma mensagem: "O dinheiro não é do Governo, da oposição, do partido A ou B. Foi obtido pelos e para os portugueses, que têm direito a uma palavra".
Na sexta-feira, as lideranças de todo o Norte desafiaram, numa conferência do JN, António Costa, o primeiro-ministro, não o consultor António Costa Silva, que esse não ouviu ninguém para o tal plano, a escutar o que têm para dizer. Mas o risco de o Governo cair na tentação de perseguir o mesmo modelo centralista na aplicação dos milhões dos fundos europeus, sem saber o que pensam as regiões, os municípios, é evidente e perigoso. Para todos nós. O autarca do Porto, a esse respeito, não podia ter sido mais claro: "O dinheiro não pode ir para os suspeitos do costume".
Na Região Norte vivem 3,58 milhões de pessoas. A resiliência das suas indústrias, dos seus trabalhadores, das suas gentes, é reconhecida, mas isso não significa que as crises sejam mais suaves.
Ao contrário, é também a Norte que se fazem sentir, muitas vezes, as consequências sociais da turbulência financeira ou económica.
O Norte é a região que mais pesa na riqueza nacional em termos industriais, sendo igualmente aquela que mais exporta. Se não é forte, o país fica mais fraco.
Precisamos todos de soluções customizadas para uma região que sofre mais quando há crise, mas que também é aquela que mais puxa pela economia nacional quando é preciso arregaçar as mangas.
Sucede que vozes de burro não chegam ao céu. Toda a região Norte sofre dos localismos das elites, políticos, empresários, investigadores, empreendedores, da inveja alheia, alimentando divisões que por sua vez alimentam o fortalecimento do centralismo. E esse é o maior obstáculo a que se construam projetos comuns que interessem às populações, mais do que a rotunda das eleições ou o chafariz. Vão ser finalmente capazes de se unirem?
Diretor