Recentemente fomos surpreendidos com uma boa noticia: a Organização Mundial de Saúde (OMS) vai instalar no Porto um Centro de Excelência para as Novas Tecnologias e o Empreendedorismo.
Esta decisão, anunciada numa declaração conjunta assinada no seguimento de uma reunião entre a comitiva ministerial portuguesa e o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, implicará a instalação do primeiro escritório da OMS dedicado à Tecnologia, Robótica e Empreendedorismo em Saúde e irá ocupar um espaço nas futuras instalações da Direção-Executiva do SNS, no antigo edifício da Direção Regional de Economia do Norte, em Ramalde.
Estarão na primeira linha temas estratégicos e modernos, como robótica e programas de literacia digital, entre outros, e que, claramente, poderão contribuir de um modo decisivo para a modernização dos serviços de saúde, garantindo acesso a cuidados mais inovadores e atualizados em função do estado da arte do exercício da medicina.
Indiscutivelmente constitui um importante ativo para Portugal, já que acelera o acesso à inovação tecnológica que, conforme noticiado, nos poderá proporcionar ferramentas de modernização, como unidades móveis, equipadas com robótica e equipamentos de ponta, que permitam prestar cuidados de saúde diferenciados, por exemplo cirurgia remota, em locais de difícil acesso e/ou junto de cidadãos com problemas de mobilidade.
O momento é ideal e reveste-se de grande oportunidade, pois a melhoria e a transformação tecnológica do sistema de saúde são prioridades absolutas, dada a necessidade urgente de implementar literacia digital e modernização quer nos serviços quer nas pessoas (sejam os agentes que trabalham, sejam os doentes utilizadores).
Curiosamente houve logo quem viesse dizer que se tratou de uma compensação por o nosso país não ter sido contemplado com a decisão da localização da sede da EMA (Agência Europeia do Medicamento). Ainda estamos bem recordados que aquando do Brexit (saída dos britânicos da União Europeia) a sede desta importante organização teve de deixar de estar em Londres e por isso foi desencadeado o processo de escolha de uma nova cidade da EU para a acolher. A este processo concorreu Portugal apresentando a cidade do Porto como candidata, mas, apesar do excelente trabalho desenvolvido pelo presidente da Câmara, Rui Moreira, e também do então ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, não foi possível atingir o resultado desejado tendo a sentença final recaído sobre a cidade de Amesterdão. Percebeu-se na altura que este tipo de escolhas e decisões não estaria dependente apenas da qualidade das candidaturas, mas, porventura, poderia também estar sujeita a "ventos" resultantes de equilíbrios e negociações de ordem política e diplomática.
O resultado foi o que foi e foi aceite com o nosso habitual fair play e ética republicana.
Claro que esta notícia de agora não reflete uma compensação diplomática pela perda da EMA, mas acredito piamente que o facto de, naquela altura, ter sido apresentada uma candidatura no âmbito do setor da saúde nos colocou visíveis para este tema e pode ter contribuído para termos sido levados mais a sério desta vez.
Também acredito que se devem continuar a fazer apostas e candidaturas desta área para a cidade do Porto. Quem sabe, a breve trecho poderemos ter em Portugal um cluster europeu da saúde.
*Médico