António Costa tomou posse há dois anos e meio. O que, olhando ao contrário para o tempo em falta até uma nova legislatura, quer dizer que ainda tem margem para reformas e muito trabalho pela frente. Nas últimas semanas, contudo, instalou-se um debate em torno do próximo Orçamento do Estado que a todo o momento coloca em cima da mesa o cenário de eleições antecipadas.
Não será surpresa para ninguém que a negociação do último OE deste Governo seja a mais dura de todas. Com a aproximação da ida às urnas, Bloco de Esquerda e PCP terão tendência a acentuar reivindicações e a mostrar ao seu eleitorado que não se desviaram nem um milímetro do caminho. Não admira que tenham reagido prontamente às declarações de António Costa de que se demitirá se o Orçamento não for aprovado. Não assinam de cruz, nem abdicam de ser quem são, encostando-se o mais possível à Esquerda.
À Direita, temos Assunção Cristas a fazer o seu percurso esforçado e interventivo, mas sem grande margem de progressão. E um Rui Rio que tarda em encontrar o tom e o alinhamento com o seu próprio partido. Sexta-feira apressou-se a travar a bancada parlamentar no ímpeto de pedir a cabeça do ministro da Saúde. No dia seguinte tentou capitalizar a entrevista do primeiro-ministro, dizendo que a alegada desorientação da geringonça é resultado da mudança estratégica da forma de o PSD fazer Oposição. Quando é difícil encontrar exemplos de acutilância ou de uma intervenção social-democrata que tenha feito estragos.
Quem sairia a ganhar com eleições antecipadas? As sondagens valem o que valem, mas o PS continua a liderar destacadamente as intenções de voto, mesmo nos estudos realizados já depois da polémica com o caso Sócrates e a rutura do antigo primeiro-ministro com o seu partido. Aliás, o PSD perde, em vez de ganhar, por ter trazido o tema para a discussão. A Direita junta dificilmente conseguiria formar governo, a não ser que encontrasse uma fórmula para subitamente empolgar os portugueses e disparar nas sondagens. E os partidos que apoiam o Governo no Parlamento seriam os primeiros a ser responsabilizados em caso de eleições antecipadas.
Acresce que António Costa tem demonstrado, esgotada a política de reversão de medidas do período da troika, dificuldade em apresentar ideias. As Finanças seguram o Governo. É pouco. É natural que o primeiro-ministro pressione os parceiros e admita sair antes de tempo. Talvez as urnas lhe dessem fôlego para abrir um novo ciclo.
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