Dizem os pescadores que quando se colocam caranguejos num balde não é necessária tampa. Se um tentar sair, os outros puxam-no para baixo. Encurralados pelo desespero, acabam por prejudicar-se uns aos outros.
A metáfora assenta na perfeição a muitos comportamentos humanos e ilustra a tentação de criticar as reivindicações e conquistas de determinadas faixas ou grupos profissionais.
Recentemente, o Governo anunciou a atualização do salário mais baixo praticado na Administração Pública para 635 euros. De imediato se ouviram acaloradas discussões sobre os privilégios dos funcionários públicos. Como se o Estado estivesse obrigado a praticar o salário mínimo que concerta com o setor privado. E como se não houvesse, tendencialmente, um efeito de contágio quando se melhoram condições laborais no público.
Sabendo-se que os recursos são limitados, governar é sempre a arte de escolher entre alternativas e é inevitável que muitas leituras sobre a justiça das decisões se façam por comparação. O que não implica, contudo, nivelar por baixo e avaliar todas as coisas a partir do degrau do fundo.
Não há, apesar dos cenários cor-de-rosa traçados no Orçamento do Estado para 2019, razões para um otimismo sem fundo quanto ao rumo do país. A dívida pública mantém-se em níveis incomportáveis, há serviços públicos em manifesta rutura, atravessámos anos de recessão e de intervenção externa sem conseguir reformar a pesada máquina do Estado.
Quase a entrar em ano cheio de eleições, vale a pena pensarmos nas escolhas que fazemos e no contributo cívico que damos para um futuro menos sombrio. Sem pessimismos que paralisam e sem receio de ver caranguejos treparem pelo balde. Sairemos todos reforçados se alguns forem vencendo as barreiras. Desde que não se esqueçam dos que continuam encurralados.
Subdiretora
