portugal em transe

A mesma trupe

Um organismo no qual, em 2001, trabalhava, a Inspecção-Geral da Administração Interna, realizou uns inquéritos a uma alegada "fundação". Fiz um deles, em que, no essencial, confrontavam-se a posição do SEF (um serviço que vai ser agora desmantelado em nome dos bons costumes vigentes) e a do director-geral das Infraestruturas do MAI, o professor engenheiro Morais, quanto ao destino de um imóvel misto, para os lados de Loures, onde iam ocorrer obras. O director do SEF asseverava que o prédio não era para acolher imigrantes temporários e o homem do MAI, que sim, que era. E não, como se suspeitava, para a "fundação" ("de prevenção e segurança") que já tinha custado a cabeça a dois membros do Governo Guterres, a instância do presidente Jorge Sampaio: Armando Vara e Luís Patrão. Mais tarde, Morais ficaria famoso por ter ensinado "inglês técnico" a outro primeiro-ministro do PS. Terminei o inquérito com a proposta de um processo disciplinar ao referido professor engenheiro, que não "passou". Abri mão dos autos. Que acabaram numa comissão de inquérito parlamentar. Um ano ou dois depois, já eu não estava na IGAI, realizou-se uma auditoria ao serviço do eng. Morais, e este acabou demitido. Passam os anos e eis que, agora por causa da TAP, outra comissão de inquérito está em funções. Começou por ouvir um inspector-geral, das Finanças, que prestou um depoimento inenarrável a bem do seu ministro. Depois vieram duas senhoras, a ainda CEO Christine e uma sua ex-companheira de administração, a dra. Alexandra Reis, por 24 horas membro do actual Governo. Lembramo-nos todos daquela cerimónia a que presidiu António Costa, e onde teve um papel preponderante o seu amigo Lacerda Machado. Eram os idos da "geringonça" e as papeletas assinadas com o Bloco e o PS obrigavam a reverter a privatização da companhia. A partir daí, a coisa caminhou de desastre em desastre, de ministro em ministro, e numa bandalheira, evidenciada na comissão parlamentar, onde não se consegue distinguir a TAP do PS, o PS da TAP, o Governo do PS e a verdade da mentira. Quando toda esta miséria moral e política acabar, o dr. Costa terá na mão um acervo - a reprivatizar com a mesma falta de vergonha política com que a "renacionalizaram" - bom em valor para um leilão na feira da Luz. E uma mão cheia de ministros que nunca o deviam ter sido. Em 2001, no DN, e por causa do que comecei por contar, Vasco Pulido Valente escrevia: "O PS no Estado é isto: uma trupe aventureira e esfomeada, que a seu belo prazer dispõe do património colectivo. No fundo, não se acha representante do povo, mas pura e simplesmente dona do País". Não mudou.

o autor escreve segundo a antiga ortografia

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