O futuro pode ser analisado, perspetivado, mas adivinhado é mais difícil. Há, no entanto, momentos que dele são definidores. Alguns pela sua violência e brutalidade, outros pelo que representam nos equilíbrios políticos e no longo prazo.
A saída dos Estados Unidos do Afeganistão está a ser caótica. A população, desesperada, tenta por todos os meios uma fuga de uma desgraça anunciada. Particularmente grave é a situação dos milhares de afegãos que durante vinte anos informaram e auxiliaram as forças americanas e não só que estiveram no país, perseguidos e mortos pelas forças talibãs.
O abandono a que estas pessoas e as suas famílias estão a ser deixadas são absolutamente injustificáveis, assim como é injustificável que após 20 anos a estratégia de saída seja a estratégia do caos, sem qualquer planeamento e de um amadorismo indesculpável. Em particular, tendo em consideração que as tropas americanas no terreno eram já poucas e tinham essencialmente como função a formação de forças armadas afegãs.
Biden tem no Afeganistão uma falha que ficará nos livros de história, com mulheres e crianças a serem as mais afetadas. O regime talibã voltará a escrever páginas negras de violência, restrições de direitos à educação, ao trabalho e à felicidade.
Os que conseguem sair procuram refúgio na Europa, sendo que a Rússia por exemplo já se recusou a receber estas pessoas em fuga, segundo Putin, por receio que sejam terroristas. À Europa, reconheça-se, tem faltado capacidade diplomática, iniciativa, capacidade de coordenação e rapidez, mas não tem faltado humanidade, compreensão nem compaixão.
Outro momento que trará certamente alterações ao panorama político mundial é a saída de cena de Angela Merkel. A liderança de Merkel foi, malgrado alguns erros na gestão da crise das dívidas, um referencial cooperação, seriedade, mas sobretudo de estabilidade.
Esse referencial fez-se notar na Europa, com a Alemanha a assumir um peso diferente de qualquer outro país e desequilibrando o eixo franco-alemão, mas também a nível mundial, sendo vista por muitos líderes nacionais e mundiais como a verdadeira líder do continente europeu.
Uma liderança americana fragilizada e uma União Europeia sem líderes fortes podem provocar o que há muito algumas vozes vão alertando: a possibilidade do ocaso do eixo União Europeia-Estados Unidos da América perante a China. A Europa enfrenta problemas muito próprios a que terá de dar resposta e diferentes dos outros blocos, como as migrações e o envelhecimento, temas a que voltarei num futuro próximo.
*Eurodeputada do PSD
