Opinião

A fuga

Ao longo das últimas décadas, Portugal deu passos muito importantes na democratização do acesso à educação e o esforço que milhares de pessoas fizeram foi sendo recompensado através de um prémio financeiro que foi distinguindo os que apostaram na sua formação.

Os mais recentes dados tornados públicos pelo Banco de Portugal são, contudo, razão para preocupação e ponderação por parte dos poderes públicos. O prémio salarial médio de uma pessoa com licenciatura caiu de forma significativa desde 2006. Ou seja, o prémio financeiro resultante de se ter uma licenciatura compensa menos (os dados são até 2020) do que no período de 14 anos abrangido nesta análise.

Esta tendência de desvalorização do prémio salarial dos licenciados acaba por espelhar o sentimento de frustração e preocupação com que muitos jovens estão ainda a frequentar o Ensino Superior, mas com poucas expectativas em relação ao futuro. Não é, por isso, surpreendente, ainda que não menos preocupante, o facto de no último ano Portugal ter perdido quase 140 mil pessoas com Ensino Superior completo.

PUB

As razões são várias. Naturalmente que a questão salarial é central, mas não só. É que a par do vencimento auferido há que ter em conta aquele que é o imposto suportado por quem termina os cursos e pretendia iniciar o seu projeto de vida. Não é aceitável que o rendimento disponível de quem trabalha seja tão baixo que tenham de ficar até aos 34 anos em casa dos pais, sem conseguirem emancipar-se. Mas, infelizmente, é esta a realidade.

Têm sido incipientes as medidas adotadas pelo Governo para responder a esta situação de emergência que empurra a famigerada geração mais qualificada de sempre para o estrangeiro. Estamos a perder talento e a desperdiçar o que de melhor o país tem: as suas pessoas.

E nem mesmo as poucas medidas lançadas para procurar mitigar esta triste realidade são implementadas de forma adequada. Recorde-se do lamentável e incompreensível atraso que se tem verificado na validação e no reembolso do IRS Jovem que tem prejudicado milhares de jovens nas últimas semanas.

É bom que o Governo corrija de forma célere esta injustiça que prejudica fiscalmente milhares de jovens. Mas que faça mais. Que seja arrojado em discriminar positivamente e de forma mais significativa esta geração que a única ambição que tinha era poder construir no seu país um projeto de vida. Saiba o país aproveitá-la.

Jurista

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG