Foi tornada pública esta semana uma sondagem que retrata a (in)satisfação generalizada dos portugueses com o estado da nação. No dia em que se assinala o 10 de Junho, é especialmente penoso e preocupante olhar para a avaliação que os portugueses fazem das políticas públicas.
Mais de 90% dos inquiridos manifestam-se insatisfeitos com os impostos sobre o rendimento. Ora, olhando para os primeiros seis meses deste ano, é compreensível que um número tão expressivo de portugueses reclame da carga fiscal que suporta. Num dos períodos mais difíceis da vida das pessoas, com o custo de vida em níveis historicamente elevados, o Estado optou por arrecadar a maior receita fiscal, em termos semestrais, desde 2010. É, absolutamente, incompreensível que numa altura como esta não haja a preocupação de priorizar a descida de impostos, para permitir que famílias e empresas tenham mais rendimento disponível ao final do mês para as suas despesas essenciais.
A insatisfação com as políticas públicas estende-se a setores tão importantes como a educação e a saúde. Quase 70% estão frustrados com a escola pública e quase 75% com o Serviço Nacional de Saúde. Também, neste último caso em particular, não surpreende, sobretudo se considerarmos aquilo a que se tem assistido nos últimos anos: o crescimento das unidades de saúde privadas e o aumento brutal dos seguros de saúde são dois exemplos que ajudam a ilustrar esta insatisfação.
Um dos aspetos mais perversos desta realidade é a conclusão do relatório "Acesso a cuidados de saúde, 2022". Segundo este estudo, o acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde está a decrescer, sobretudo para a população menos favorecida economicamente. Num país de grandes assimetrias, onde o elevador social parou e não funciona, a degradação acentuada de serviços públicos de saúde e de educação condena os mais pobres a persistirem num círculo vicioso e os mais novos a procurarem, cada vez mais, oportunidades lá fora, o que é espelhado pelas estatísticas. Os números, de facto, não enganam.
O resultado da falência dos serviços públicos, da degradação das instituições e de uma carga fiscal que ostraciza famílias e empresas são o combustível que alimenta os perigosos populismos e discursos extremistas. Era bom que da parte dos poderes públicos, em especial do Governo, fosse tomada a devida nota que a melhor forma de os combater é começar a resolver, de facto, os problemas das pessoas.
Jurista
