O país assistiu nas últimas semanas a inúmeros protestos no setor da Educação. Do Norte ao Sul do país, professores, mas não só, têm reclamado melhores condições para o exercício pleno e dedicado da sua profissão.
A progressão na carreira, os baixos salários, o modelo de avaliação, a elevada burocracia, as colocações a centenas de quilómetros de casa e a instabilidade na profissão são algumas das reivindicações da classe docente. Milhares de professores sentem-se cansados, pouco valorizados e desiludidos com a forma como têm desempenhado a sua profissão. Porém, o problema é bem maior neste setor.
Recorde-se que o ano letivo começou com mais de 60 mil alunos sem professor a, pelo menos, uma disciplina. Este é um problema que se junta a um outro decorrente da pandemia. As aprendizagens perdidas durante os sucessivos confinamentos e fechos das escolas levaram à criação de um plano de recuperação, cuja execução tem deixado muito a desejar. Na prática, o que se acentuou nos últimos anos foi uma crescente desigualdade entre os alunos de famílias mais vulneráveis e os alunos cujos pais têm condições para lhes proporcionar outro tipo de acompanhamento. É, portanto, mais uma machadada na capacidade de a educação ser verdadeiramente um elevador social. Infelizmente não é, e a realidade tende a piorar.
Recorde-se que muitas das mexidas e alterações promovidas neste setor vão no sentido de reduzir a exigência e promover uma cultura de facilitismo que é inimiga de uma Escola de qualidade e exigência. Ainda por estes dias, líamos com muita preocupação o parecer da Sociedade Portuguesa de Matemática sobre as propostas de alteração ao currículo no Ensino Secundário homologadas a 13 de janeiro pelo ministério. O parecer é verdadeiramente demolidor: a Sociedade Portuguesa de Matemática acusa o Ministério da Educação de atirar a aprendizagem da Matemática no Ensino Secundário para "mínimos históricos inexplicáveis", apontando "múltiplos e graves problemas" às aprendizagens essenciais homologadas. A resposta de muitas famílias tem sido o recurso a instituições privadas de ensino, o que é, apenas, mais um sinal do desmantelamento da Escola Pública promovido pelo Partido Socialista.
Estes experimentalismos, a juntar ao clima de insatisfação e instabilidade vivido nas escolas, marcado por sucessivas greves e manifestações, têm custos para o sistema educativo e para o futuro de milhares de crianças e jovens e respetivas famílias.
*Jurista
