Quando no dia 15 de outubro de 2017, um violento incêndio dizimou quase a totalidade de mais de 700 anos de história do Pinhal de Leiria, a primeira reação de muitos foi de choque e perplexidade. Em poucas horas, a memória secular da Mata Nacional de Leiria foi praticamente reduzida a cinzas. Uma das razões para a comoção que se gerou radicava na triste circunstância de se saber, de antemão, que seriam necessárias décadas para voltarmos a ver um esboço semelhante da "catedral verde e sussurrante", como tão bem imortalizou o poeta Afonso Lopes Vieira.
As juras de amor e as promessas que foram então dedicadas ao Pinhal do Rei foram rapidamente esquecidas pelo poder político. Não foi tão célere a dedicar-lhe os esforços necessários para a sua recuperação como foi sendo, ao longo de décadas, a arrecadar as generosas receitas que o Pinhal de Leiria foi gerando. Na primeira década do século XXI, o investimento nesta Mata Nacional correspondeu a perto de 10% do valor amealhado pelo Estado pela sua exploração.
Seria sempre difícil lidar com o contraste do verde de mais de 11 mil hectares de pinhal com a aridez dos despojos deixados pelo incêndio de há cinco anos. No entanto, é ainda mais perturbador constatar que continuamos a não aprender com os erros e a desvalorizar uma das mais belas imagens que o país tinha para oferecer.
Os especialistas têm sido claros em denunciar os evidentes sinais de abandono do Pinhal de Leiria: o longo tempo perdido a aguardar a regeneração natural que já não teria lugar; a falta de limpeza dos terrenos; a ausência de acompanhamento das plantações; a proliferação das espécies invasoras e uma manifesta incapacidade em preservar o tão pouco que não ardeu. É, aliás, sintomático o facto de muitas das recomendações técnicas feitas pela comissão independente, à data criada, não estarem a ser aproveitadas nos trabalhos de recuperação da Mata Nacional.
A estes sinais de desmazelo, que só uma gestão desfasada e distante da realidade consegue justificar, junta-se uma gritante falta de envolvimento das entidades e comunidades locais, a quem o Pinhal de Leiria tanto diz. Se os ouvissem e envolvessem talvez alguns destes alertas já tivessem surtido efeito e algumas destas medidas sido tomadas. Porém, não tem sido essa a opção.
Dos 18 milhões de euros arrecadados com a venda da madeira queimada, foram destinados ao Pinhal de Leiria, até ao momento, apenas 3,6 milhões de euros. Estaremos atentos à prometida, mas ainda não cumprida, utilização integral desta receita nos trabalhos de recuperação da Mata. Empenhar todos os esforços para recuperar o Pinhal de Leiria é uma obrigação que temos com as próximas gerações.
*Jurista
