Enquanto os jornalistas, comentadores e políticos se entretiveram a gastar o seu tempo a perspetivar a desgraça que podia acontecer a qualquer um dos partidos tradicionais, por causa da meteórica ascensão dos partidos de extrema-direita (nacionalistas e xenófobos), os povos por essa Europa fora estiveram atentos ao que diziam os Verdes.
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Já começaram a chamar estúpido ao povo português, argumentando que o resultado do PAN se ficou a dever ao facto de haver um cão e/ou um gato em cada uma das casas dos grandes centros urbanos. A síntese perfeita desta incompreensão foi feita por Marinho e Pinto, que deu parabéns aos animais pela representação que passam a ter em Bruxelas.
A Direita nem sabe o que isto é. Salvar o planeta? Coisa de miúdos, a fazer gazeta na escola. A Esquerda anda perdida. Os verdes não estão na CDU? E na verdade, sem preocupações com o espectro político, o partido que tem como preocupação central os animais e a natureza ganhou a atenção das pessoas. Pode ser que, lá atrás, tenha sido um partido da moda ou mesmo um partido para os votos de protesto, mas hoje é muito mais do que isso, é um partido de causas, é um partido da grande causa que mobiliza o eleitorado mais jovem.
Para que o PAN continue a crescer não é preciso que todos os eleitores se transformem em vegans, basta que cresça a onda dos que deixaram de pensar que o mais importante é a taxa de crescimento económico e o valor do défice, porque entendem a necessidade de fazer prevalecer um consumo responsável, que garanta a existência de um planeta para as gerações futuras. As minhas filhas, de nove anos, já participaram, por vontade própria, em duas manifestações para salvar o planeta. Sem particular influência dos pais, estou certo que estas futuras eleitoras estão já a formar o seu sentido de voto. Mais duas legislaturas e chegará a vez delas e da geração a que pertencem decidirem o futuro do país e da Europa. Aqui também há uma agenda para a década.
Os Verdes (ecologistas) elegeram eurodeputados em 15 países, com especial destaque para o eixo Paris/Berlim que contribui com quase metade dos mandatos para este grupo parlamentar, que passa a ser o quarto grupo parlamentar em Bruxelas. Num Parlamento em que as duas principais famílias (socialistas e populares) deixaram de ter nas suas mãos a maioria absoluta dos lugares, os Verdes serão, em alternativa aos Liberais, um fator determinante no exemplo que a Europa quererá continuar a dar ao Mundo. Queremos ser a economia mais rentável ou mais sustentável?
Jornalista