1. Depois de duas semanas alucinantes, a crise no Governo parece terminada. Para o bem e para o mal, António Costa tem mandato para governar. E tem uma maioria absoluta. O que não quer dizer controlo absoluto. Se há facto que se destaca nesta crise é o da nova centralidade política de Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente não é apenas um personagem popular. É alguém cuja palavra permite manter ou derrubar ministros e secretários de Estado. E que deixou um aviso político sério: se o Governo não for capaz de gastar, este ano, os 15 mil milhões de fundos europeus disponíveis, não terá futuro. A bomba atómica (dissolução do Parlamento e eleições antecipadas) está à mão.
2. Ainda que a crise esteja estancada, sobram outros estilhaços que o tempo não apagará. Por exemplo, a desfaçatez dos que vivem à sombra de um poder que cruza o PS, o Governo, a administração e as empresas públicas e os grupos privados. Três exemplos: Alexandra Reis e a voracidade de acumular uma indemnização chocante com cargos públicos; Carla Alves e a sua sensação de impunidade política, sem se incomodar com o dinheiro que lhe entra na conta bancária, não se conhecendo explicação razoável; e Rita Marques, que um dia é a secretária de Estado que ativa apoios milionários a uma empresa e no dia seguinte passa a gestora dessa empresa.
3. Outro estilhaço da crise é a TAP. Uma empresa pública que só sobrevive graças a uma injeção de 3200 milhões de euros dos contribuintes, que depois se dedica a desbaratar. Faz bem o PS em viabilizar a comissão de inquérito proposta pelo BE (recusando a dos "bolsonaristas" do Chega). Mas, se a investigação à TAP pode acrescentar transparência, as notícias seguintes podem ser deprimentes. E façam-se votos para que os deputados procurem apurar em que moldes decorreram as "renúncias" de mais quatro administradores desde que a TAP foi resgatada com dinheiros públicos. Também receberam indemnizações? De quanto?
Diretor-adjunto

