Voltou a ser notícia, no Porto, a possibilidade de instalação do El Corte Inglés nos terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista. Este é um desejo antigo, já que é sabido que o El Corte Inglés só se instalou em 2006 em Gaia porque Rui Rio não permitiu a sua instalação nesse terreno, apresentando como alternativa a sua instalação na Baixa.
Este é um processo curioso que importa analisar. Em primeiro lugar, o facto de uma entidade pública (Refer) ter aceitado negociar, em 2000, com um privado (o El Corte Inglés) uma opção de compra de um terreno estratégico do Porto sem ter falado previamente com o município, naquele desprezo pela "província" a que estamos habituados... Terreno esse situado ao lado daquela que será, a curto prazo, a principal estação do metro do Porto, ponto de confluência de várias linhas e com uma utilização diária estimada de 60 mil pessoas, antes de acolher a linha de ligação ocidental a Gaia! E por ser uma entidade pública a favorecer a especulação imobiliária, permitindo, inicialmente por 13 anos, a opção de compra (ou seja, o terreno fica em espera, até que os ventos soprem favoravelmente).
Em segundo lugar por, à boleia, deste negócio, outro agente especulador ter adquirido, em 2008, praticamente todos os imóveis da Rua 5 de Outubro e da própria rotunda da Boavista contíguos ao terreno da Refer, encerrando os diversos estabelecimentos comerciais aí existentes e mantendo-os, desde essa altura, fechados e entaipados!
Estamos, assim, perante a possibilidade de aumentarmos ainda mais a maior concentração de centros comerciais do Porto (num raio de 300 metros a partir da rotunda da Boavista, temos o Brasília, o Península, o Bom Sucesso, o Cidade do Porto e o Sirius). Numa das zonas com mais congestionamento de trânsito da cidade. Pelo que se esperava ouvir a opinião do presidente da Câmara sobre esta possibilidade. Mas não, Rui Moreira limita-se a criticar (com razão!) o centralismo da Refer, a dizer que não tem dinheiro para exercer o direito de opção de compra do terreno (falando em 180 milhões de euros, embora os números referidos pela comunicação social sejam "apenas" de 22 milhões) e a dizer que não interfere na análise do Pedido de Informação Prévia apresentado ao município. Ou seja, "lava as mãos como Pilatos"... É fundamental perceber se Rui Moreira está de acordo com a instalação de uma grande superfície na cidade. E se acha que aquele é o melhor local. Ou se considera que essa não é uma opção política e que, no Porto, o "mercado" é que decide. Porque se investimentos deste calibre são decididos por verificação das volumetrias estabelecidas no PDM, então escusamos de ter presidentes de Câmara e vereadores do urbanismo, porque qualquer robô faz automaticamente essas contas...
*Engenheiro
