Custou, mas foi. António Costa pediu, enfim, desculpa aos portugueses, num ato de contrição tão inevitável quanto tardio, executado, ontem, no Parlamento. Mas fê-lo depois de aceitar a demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, pressionado pelas palavras do presidente da República e numa altura em que a crise política está efervescente. Encurralado e, agora sim, sem margem de manobra, sob pena de ter de assumir a responsabilidade sozinho, o primeiro-ministro aceitou a carta do adeus. Nunca saberemos como teriam sido as coisas se a saída da ministra tivesse acontecido logo após a tragédia de Pedrógão Grande, mas constatamos que à segunda não há escapatória possível.
Quase toda a gente, durante os dias que se seguiram a nova desgraça na Região Centro, se especializou em Proteção Civil, avançando soluções e cortando cabeças, mas os efeitos produzidos serão sempre inócuos, nada mais do que lágrimas só entendíveis à luz da comoção e revolta generalizada que se entranhou nas pessoas, face ao sofrimento de milhares de portugueses. Que perderam tudo, até o bem mais precioso: a vida. Perante isto e, sobretudo, perante isto outra vez, até os vocábulos exagerados têm de ser perdoados.
Mas o tempo é de agir, avançando na discussão, que, ontem, chegou ao Parlamento, onde sobraram as habituais, mas dispensáveis, tentativas de aproveitamento político, vindas de quem nunca se conformará com a solução encontrada para governar Portugal, alicerçada numa geringonça à Esquerda. Por uma vez, os deputados deviam era unir-se em torno de novas políticas, chancelando uma espécie de pacto de regime a longo prazo, que apontasse a soluções para os problemas da floresta e do combate aos fogos. Depois de minimizarmos os dramas de quem sofreu e ainda sofre com a incineração de uma parte da alma do país, esse deve ser o novo desígnio, que não compete exclusivamente ao Governo.
Não adianta à Oposição esconder-se no ataque feroz a António Costa, moções de censura sem efeitos práticos incluídas. A responsabilidade do que nos aconteceu é comum a vários executivos, de Esquerda e de Direita. Os fogos não são de agora e as políticas florestais também não. O pedido de desculpas que esperamos é coletivo, de Assunção Cristas a Passos Coelho, de Jerónimo de Sousa a Catarina Martins. A mim, porém, nada me deixaria mais satisfeito do que ver o país corrigir sucessivas tragédias que só merecem perdão no dia em que todos tivermos a certeza que, por incúria ou má administração, não se voltarão a repetir.
EDITOR-EXECUTIVO-ADJUNTO
