A adesão, ou a falta dela, das autarquias à transferência de competências é um sintoma de que a descentralização está longe de resolver o problema das assimetrias do país, correndo até o risco de as acentuar.
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Quando constatamos que num dossiê tão sensível como é o da distribuição de subsídios para os passes sociais, inserido na estratégia do Governo para fomentar a utilização dos transportes públicos, a Grande Lisboa recebe o dobro do dinheiro por passageiro atribuído ao Grande Porto, três vezes mais em relação às restantes regiões, percebemos que é impossível sossegar: não será o Executivo de António Costa a melhorar a qualidade de vida das pessoas do interior.
É preciso mais e, provavelmente, mais só com autonomia a sério. Como dizia, há dias, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, "temos um país cada vez mais centralista". Acrescento: e menos credível no que concerne à cúpula política, pois ninguém no Governo o admite. Acresce que não têm a mínima noção do tempo de espera que uma pessoa de Trás-os-Montes enfrenta para fazer uma viagem de autocarro de meia dúzia de quilómetros entre duas povoações. No longínquo Terreiro do Paço, isso nunca será um problema, até porque a frota automóvel do Estado chega e sobra para as encomendas. Pelo contrário, no país esquecido, qualquer dia nem será necessário subsídio, porque a oferta de transportes é miserável e, também como consequência disso, talvez com o tempo deixe de haver pessoas para comprar passes sociais.
Neste quadro de um país a duas velocidades, sobressai a manchete do "Jornal de Notícias". A Região Norte foi responsável pela diminuição, em quase 50%, do desemprego do país, desde o pico da crise, dando um contributo decisivo para alavancar a economia. Mas na hora de o Poder Central distribuir riqueza, outras latitudes são privilegiadas. E, assim, a regionalização começa, cada vez mais, a fazer sentido.
*Editor-executivo