Após o Conselho de Ministros, no qual foi equacionada a demissão, Passos foi a Belém pedir uma espécie de declaração de conforto para continuar a liderar o Governo. Cavaco garantiu-lhe o apoio.
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No final da audiência no Palácio de Belém, a Presidência da República divulgou um comunicado a garantir que o Governo "tem condições" para se manter em funções. Dessa forma, Cavaco Silva dava a mão a Passos Coelho para afastar o cenário de demissão, que chegou a ser admitido no Conselho de Ministros extraordinário de sábado à tarde, nomeadamente por parte do ministro das Finanças.
Esse apoio do presidente era a condição do primeiro-ministro para avançar com as negociações com a troika no sentido de tapar o buraco financeiro de cerca de 1300 milhões de euros aberto pela declaração de inconstitucionalidade de alguns artigos do Orçamento do Estado (OE) para 2013.
Mas a legitimação do presidente exigida pelo chefe do Executivo estendeu-se ao ministro de Estado e das Finanças, que acompanhou Passos Coelho ao Palácio de Belém. De acordo com informações divulgadas, sábado, na SIC pelo ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, alguns ministros terão defendido a demissão do Governo, por entenderem que não há condições para continuar a gerir o país.
A dramatização da situação financeira e política do país marcou a mensagem que o primeiro-ministro quis transmitir com a sequência dos acontecimentos de sábado. Primeiro, no final do Conselho de Ministros foi lida uma declaração, pelo secretário de Estado Luís Marques Guedes, na qual se alerta para os efeitos negativos do chumbo do TC; a seguir, depois de ir a Belém, marcou para hoje uma declaração ao país.
Responsabilização
A estratégia da dramatização dos efeitos do chumbo do OE e da responsabilização do presidente da República pelo suporte político ao Governo já fazia caminho há algumas semanas no interior da coligação PSD/CDS.
Cavaco Silva juntou-se à Oposição para pedir a fiscalização sucessiva de alguns dos pontos do OE e, por isso, defendiam sociais-democratas próximos de Passos, o primeiro-ministro deveria exigir um compromisso público do presidente de apoio à continuidade do Governo.
Acresce que a Oposição, em particular António José Seguro, radicalizou o discurso e avançou com uma moção de censura, exigindo eleições antecipadas. Daí que Passos precise agora, em particular para consumo externo por parte da troika, dos "bons ofícios" do presidente para tentar o que o Governo não conseguiu manter - o consenso político mínimo à estratégia da consolidação orçamental.
Ponte com o PS
O chefe de Estado, que já se manifestou contra a realização de eleições, mas que tem mantido uma linha de ligação a António José Seguro , é, neste momento, a única via que o Governo ainda conseguirá usar para tentar que a rutura com os socialistas não seja definitiva.
Essa ponte com o PS, patrocinada por Cavaco e que Paulo Portas tem vindo a tentar segurar, poderá passar por uma remodelação governamental que alargue o leque político. Nomeadamente, com a inclusão no Executivo de figuras menos conotadas com os aparelhos partidários. É que no interior do PS há setores com peso, como os soaristas, que defendem a possibilidade de haver um entendimento para a construção de uma solução alternativa ao atual Governo sem necessariamente o recurso imediato a eleições.