Há poucas lojas e modelos, e todos acima de 50 euros. Pandemia travou iniciativa da UMinho que os adaptava e oferecia a instituições de crianças deficientes.
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Numa altura em que se multiplicam os brinquedos embrulhados em muitas árvores de Natal do país, há um conjunto de famílias e instituições que têm de fazer um esforço hercúleo para conseguir um simples objeto de brincar para uma criança ou jovem com deficiência. Os modelos de brinquedos adaptados à venda no mercado português são poucos e custam pelo menos dez vezes mais do que os comuns.
Um urso de peluche básico que se compra por cinco ou dez euros numa loja ou supermercado, nunca se vende por menos de 50 euros se estiver adaptado. Para além disso, as lojas de brinquedos adaptados vendem o manípulo à parte, cujo preço tem grandes oscilações que vão dos 30 euros aos 250 euros.
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Um simples adaptador
A única diferença entre um brinquedo adaptado e um normal é, muitas vezes, um simples adaptador de botão com um cabo soldado à parte eletrónica do objeto. É simples, mas decisivo para uma criança com desordem do desenvolvimento do controlo motor, como a paralisia cerebral. É o botão adaptador que permite que a criança acione o sistema elétrico do brinquedo com qualquer parte do corpo.
Para além de ser um segmento de luxo, o mercado de brinquedos adaptados é escasso e resume-se a poucas dezenas de objetos para brincar, quase todos peluches ou carros, o que deixa pouca escolha às famílias.
O motivo é atribuído pelos fornecedores à "lei" da procura e da oferta num mercado com poucos clientes e, por conseguinte, pouco atrativo para o lucro. "É um mercado completamente diferente para um cliente específico, daí talvez escassear um pouco", refere Serafim Silvestre, um dos poucos comerciantes do país com brinquedos adaptados.
Não há um Código de Atividade Económico específico para este tipo de lojas e uma demorada pesquisa no Google permite encontrar apenas três em Portugal. Uma delas é a Megaserafim Acessibilidades, de Serafim Silvestre, a única que o JN encontrou com sede no Porto. Esta loja já compra os brinquedos adaptados e revende-os, mas a margem de lucro não é grande porque alguns fornecedores já os vendem caros. "Este produto é um nicho dentro de um nicho de mercado", admite.
Ajuda interrompida
Para muitas famílias e instituições que têm a cargo crianças com deficiência, aprender a adaptar é a única solução. Neste capítulo, um dos maiores projetos de solidariedade social do país era feito, todos os anos, pelo clube de robótica do Departamento de Eletrónica Industrial da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (UMinho). Pela altura do Natal, os alunos adaptavam, de forma voluntária, dezenas de brinquedos que ofereciam a instituições de crianças com deficiência.
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Contudo, a pandemia suspendeu o projeto. "Fazíamos isto consecutivamente desde 2006, fiquei muito triste e com uma dor de alma muito grande", desabafa Fernando Ribeiro, professor da UMinho e dinamizador da iniciativa solidária. A decisão de suspender a adaptação de brinquedos em 2020 era inevitável face ao risco de contactos entre alunos, passagem de objetos e ferramentas ou manuseamento de brinquedos que não são novos. Fica, no entanto, a promessa de "regresso a dobrar em 2021", perspetiva o docente.
Brinquedos ajudam
Uma tese de 2018 da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa comprovou que o impacto dos brinquedos adaptados no desenvolvimento psicomotor de crianças com necessidades educativas especiais é positivo.
Maior independência
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A tese concluiu que o brinquedo adaptado combate a lacuna de, muitas vezes, os pais ou amigos não poderem brincar com a criança. Com o adaptador, ela pode brincar sozinha e adquire maior independência. Os melhoramentos registados em crianças foram ao nível da comunicação, praxia global e fina, tonicidade e coordenação motora.
Cão de peluche
Exemplar da cadelinha Lucy, promovido no site da Megaserafim, que levanta a cabeça e late. Manípulo e pilhas não incluídos.
Frankie Bolhas
Peixe Frankie que faz bolhas quando o manípulo é apertado. Excelente para treino de causa e efeito. Manípulo e pilhas não incluídos.
Minnie
Boneca Minnie telecomandada que anda para frente e para trás, para a esquerda e a direita. Requer quatro manípulos e pilhas, não incluídas.